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Falha dos laboratórios é mais um indicativo de subnotificação, dizem especialistas

Sesab divulgou que três unidades em Salvador e Lauro de Freitas deixaram de notificar casos positivos


A Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) informou nessa quinta-feira (27) que identificou três laboratórios de Salvador e Lauro de Freitas que deixaram de notificar testes positivos de covid-19: Sabin, LPC e Hermes Pardini. Para os especialistas, esse fator se soma a outros que contribuem para a subnotificação de casos no estado. “É difícil estimar o número de subnotificação, mas indícios nos levam a crer que ele é elevado”, aponta o virologista e pesquisador da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Gúbio Soares.

“Tem muita gente assintomática que não faz o teste, ou até mesmo com sintomas, mas que não quer enfrentar fila e não acha que tem tanta necessidade de testar”, acrescenta Soares. O pesquisador ainda lembra que a explosão de casos pode estar contribuindo para a falha dos laboratórios, gerando um ciclo vicioso.


    “Estamos vendo uma sobrecarga dos laboratórios. Existe uma demanda muito grande por testes e, ao mesmo tempo, profissionais contaminados que estão afastados. Então, não é somente o não notificar, mas também o atraso na notificação. As pessoas demoram a testar porque tem muita fila, os testes demoram a ficar prontos e os profissionais demoram para notificar. Vai virando uma bola de neve, o cenário que os boletins apontam não é o que estamos de fato vivendo; existe um atraso inegável”, diz Gúbio Soares.

Eduardo Martins Netto, epidemiologista e professor da Ufba, ressalta que a subnotificação sempre foi um problema, mas pode estar ainda mais acentuada agora por conta da variante ômicron. “Sempre tivemos uma subnotificação, durante toda a pandemia. A diferença agora é a ômicron, que pode estar elevando ainda mais essa ausência de registros, justamente por estar provocando sintomas mais leves nos vacinados”, destaca.

O epidemiologista diz ainda que a falha e atrasos nos registros atrapalham a contenção da pandemia. “O número de casos ativos nos ajudam a entender a dimensão da pandemia e, assim, ajudam os gestores públicos na tomada de decisão. Os casos ativos, juntamente com a taxa de ocupação de leitos e número de óbitos, vão ajudar a analisar o cenário e dizer se é preciso adotar medidas restritivas e abrir mais leitos, por exemplo”, explica Netto.

 

Falha dos laboratórios

A Sesab informou que ficou ciente de que uma parcela de testes positivos dos laboratórios Sabin, LPC e Hermes Pardini dos últimos 2 meses não foi notificada, mas que o número de testes ainda está sendo contabilizado. A superintendente de Vigilância e Proteção da Saúde da Bahia, Rivia Barros, destaca que “um trabalho conjunto das vigilâncias municipais e do estado vai apurar a dimensão das subnotificações destas redes laboratoriais”. Os responsáveis técnicos dos laboratórios serão convocados a prestar esclarecimentos sobre os fatos.

De acordo com portaria ministerial nº 1.792, de 17 de julho de 2020, deverão ser notificados ao Ministério da Saúde, em até 24 horas, todos os resultados dos testes de diagnóstico realizados, sejam positivos, negativos, inconclusivos e correlatos, em qualquer que seja a metodologia de testagem utilizada. Segundo a Sesab, o prazo não está sendo cumprido e atrasos chegam a até 30 dias.
Caso pode ser configurado como infração sanitária e laboratórios podem ser punidos (Foto: Divulgação/Sesab)

Conforme os incisos VI, VII, VIII do caput art. 10 da Lei nº 6.437, de 20 de agosto de 1977, a atitude, se confirmada, configura infração sanitária, cuja prática pode acarretar a aplicação de penalidades como advertência, multa ou interdição do estabelecimento, além de outras sanções de natureza administrativa, civil ou penal cabíveis.

A diretora em exercício do Laboratório Central de Saúde Pública da Bahia (Lacen-BA), Felicidade Pereira, acrescenta que nem todos os laboratórios públicos e privados da Bahia estão habilitados a realizar o teste do tipo RT-PCR para a covid-19.



“Apenas 33 redes laboratoriais, já incluindo estruturas universitárias, estão habilitadas pelo Lacen-BA ou por laboratórios de referência de outros estados a fazerem o RT-PCR. Essa habilitação atesta a qualidade no processamento das amostras, porém, ainda assim, há instituições que mesmo habilitadas não estão realizando a notificação compulsória em tempo oportuno”, avalia. A lista com os 33 laboratórios pode ser conferida no final da reportagem.

Quem identificar estabelecimentos não autorizados realizando testes deve encaminhar a denúncia para a Ouvidoria do SUS. Endereço: 4ª Avenida, 400, lado B – Centro Administrativo da Bahia (CAB), Salvador. Telefones: 0800 2840011. Site: www.saude.ba.gov.br/ouvidoria


O que dizem os citados

O Laboratório Hermes Pardini informou que, na Bahia, apenas analisa os exames de covid-19 coletados por laboratórios parceiros. “No caso dos testes positivos, o Hermes Pardini notifica seus parceiros, a quem fica a responsabilidade de notificar a vigilância epidemiológica local”. Em réplica, a Sesab disse que tanto as redes quanto os eventuais laboratórios associados são responsáveis pela notificação compulsória.
 
O Sabin Medicina Diagnóstica informou que “os casos positivos de exames de covid-19 realizados pela empresa estão sendo normalmente notificados às vigilâncias epidemiológicas locais e ao Ministério da Saúde”.


Já o LPC admitiu o erro, citando o aumento da demanda por testes e informando que está reestruturando as operações para solucionar o problema. “Devido ao momento crítico da pandemia, e consequentemente, o elevado aumento na procura por exames para covid-19, tivemos um impacto direto em nossos fluxos, acarretando no atraso momentâneo no envio dos dados”, diz a nota.


 
“Uma avalanche de contaminação”

Mesmo com subnotificação, os números assustam. De acordo com o boletim da Sesab desta quinta-feira (27), a Bahia tem 26.681 casos ativos. O estado se aproxima do recorde de toda a pandemia: 30.221 casos ativos, número que foi alcançado no dia 13 de julho de 2020. Para o governador Rui Costa, a marca deve ser novamente registrada nos próximos dias.

Rui disse que a Bahia vive uma “avalanche de contaminação”. “Olhando o gráfico de contaminação, aparece um paredão vertical, que continua subindo. Em menos de uma semana, se continuar nesse ritmo, nós vamos passar de 30 mil casos. Graças a Deus e à vacina, nós não temos o mesmo reflexo na demanda de UTI que tínhamos no ano passado", disse o governador Rui Costa, nesta quinta-feira (27), em coletiva de imprensa.
Gráfico de casos ativos na Bahia de 03/2020 a 01/2022 (Fonte: Sesab)



A taxa de transmissão na Bahia, ou o chamado fator RT, já é a maior de toda a pandemia. É o que aponta a pesquisadora Juliane Fonseca, do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs), da Fiocruz. No dia 1º de janeiro, ele estava em 0,42. No último dia 24, em 2,22. Isso significa que cada 100 infectados passarão o vírus para outras 222 pessoas. Para que a pandemia fique controlada e haja redução da curva de contágio, ele precisa estar abaixo de 1.

A justificativa está na variante ômicron, que, de acordo com o levantamento mais recente da Sesab, representa ao menos 76% dos casos de covid-19 na Bahia. “A ômicron é 10 vezes mais transmissível que a delta, então ela pode ser considerada uma variante supertransmissível. Somado ao relaxamento e as festas que aconteceram no final do ano, resultou na explosão de casos que estamos vivendo”, detalha Andrea Gusmão, doutora em Virologia pela Unicamp e professora de Virologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e UNIFTC.


 
Crescimento de casos ativos na Bahia:

01/01/22 - 1.830
02/01/22 - 1.809
03/01/22 - 1.776
04/01/22 - 1.905
05/01/22 - 2.200
06/01/22 - 2.756
07/01/22 - 3.371
08/01/22 - 4.116
09/01/22 - 4.461
10/01/22 - 4.499
11/01/22 - 5.493
12/01/22 - 6.174
13/02/22 - 7.256
14/01/22 - 8.560
15/01/22 - 8.732
16/01/22 - 9.055
17/01/22 - 9.479
18/01/22 - 10.980
19/01/22 - 13.262
20/01/22 - 14.743
21/01/22 - 16.831
22/01/22 - 18.314
23/01/22 - 19.665
24/01/22 - 19.995
25/01/22 - 21.635
26/01/22 - 23.985
27/01/22 - 26.681

Laboratórios habilitados a fazer o teste RT-PCR para a covid-19:

    Laboratório Leme
    Laboratório Jaime Cerqueira
    Laboratório DNA
    Laboratório do Hospital São Rafael
    Laboratório de Diagnóstico Molecular do SENAI CIMATEC
    Laboratório de Diagnóstico Molecular do Centro das Ciências Biológicas e da Saúde, da Ufob
    Laboratório Municipal de Referência Regional - LMRR de Vitória da Conquista
    Laboratório do Hospital Cárdio Pulmonar
    Laboratório Studart&Studart
    Laboratório do Centro de Diagnóstico do GACC
    Laboratório de Farmacogenômica e Epidemiologia Molecular da Universidade Estadual de Santa Cruz
    LABCHECAP - Laboratórios de Análises Clínicas Ltda
    Instituto Gonçalo Moniz - Fiocruz/Bahia
    Laboratório Linus Pauling
    LABO - Laboratório Oliveira Ltda
    Laboratório LPC
    ETG Testes Moleculares Serviços Laboratoriais LTDA
    Laboratório José Silveira
    Laboratório de Diagnóstico Molecular da COVID-19, da Ufrb
    Laboratório de Diagnóstico Molecular da Faculdade de Farmácia, da Ufba
    Laboratório Núcleo de Análises Clínicas LTDA
    Laboratório Santa Maria
    Alfa Test Exames Laboratoriais
    Biofast Medicina e Saúde
    Instituto Análise de Pesquisas Clínicas
    Centro de Hematologia e Patologia Clínica LTDA Biocenter
    Dasa
    Fleury
    Diagnósticos do Brasil - DB
    Centro Avançado de Estudos e Pesquisa - CAEP/SP
    Hermes Pardini
    Rede D'Or
    Sabin

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