Crime contra paisagista foi premeditado, diz delegada


O agressor vai responder por tentativa de feminicídio, que prevê pena de 12 a 30 anos



Depois de ouvir o depoimento da paisagista Elaine Peres Caparroz, de 55 anos, a delegada Adriana Belém, titular da 16ªDP (Barra da Tijuca), disse ter certeza que Vinícius Batista Serra, de 27 anos, premeditou o crime e pretendia matar a vítima. O agressor é lutador de jiu-jitsu e estudante de Direito. Ele vai responder por tentativa de feminicidio, que prevê pena de 12 a 30 anos.
— Ele premeditou sim. Solicitou amizade no Instagram após ela postar foto do filho e conseguiu ganhar a confiança dela. Quando ele se apresentou como Felipe na portaria, ela não permitiu o acesso. Ele disse então que o seu nome era Vinícius Felipe. Elaine disse: "Ué, não sabia que ele tinha nome composto" — disse a delegada.
Foto: reprodução
A delegada afirmou que vai encaminhar os autos ainda hoje para a Justiça. Isso não impede, segundo ela, que a possibilidade do crime ter sido cometido por vingança seja investigado.
— Nada impede que a Justiça nos remeta as cópias dos autos para que a gente investigue se foi vingança envolvendo o filho dela — acrescentou a delegada: — Ficou claro que ele planejava matar a Elaine. Ele forçava todo tempo para que os encontrassem a sós. Disse que não queria encontrar com ela em balada, porque era uma atleta e não podia beber. Esse rapaz tem que ficar preso. Ele é nocivo para a sociedade.
Ao chegar na delegacia, Elaine Peres Caparroz do momento que está passando.
— Está sendo difícil, mas estou em busca de justiça por todas as mulheres que passaram por isso — disse Elaine na porta da delegacia.
Na saída, a paisagista fez um agradecimento aos que salvaram a sua vida:
— Gostaria de agradecer as pessoas que salvaram a minha vida, pelo atendimento que recebi no hospital e pelo trabalho impecável feito pela polícia. Eu tenho oportunidade de expor tudo o que passei, mas outras mulheres não tiveram a mesma oportunidade.
A agressão ocorreu num encontro no apartamento, que foi marcado pela paisagista e pelo estudante, após os dois conversarem por oito meses em uma rede social. Entre outros ferimentos causados pelas agressões, a paisagista sofreu descolamento de retina, perdeu um dente, levou 60 pontos na boca, e ainda está com marcas provocadas por mordidas nos braços e hematomas nas pernas.
Neste domingo, a paisagista antecipou em entrevista ao EXTRA, que acredita ter sido dopada após tomar vinho na sala do apartamento e que não se lembra de como foi levada até o quarto, onde acordou já sendo esmurrada por Vinícius, que luta jiu-jítsu.
— Estava com ele na sala. Brindamos com vinho, e estava tudo ótimo. Em determinado momento da conversa, comecei a perder os sentidos. Era como seu estivesse num plano real do nosso encontro, e esse plano real tivesse se transformado em sonho. De repente, mudou a dimensão da realidade para mim. Eu perdi a noção, era como se eu estivesse delirando. Ainda me lembro dele já, no quarto, sem camisa, com o braço aberto dizendo para eu deitar no braço dele para dormimos juntos. Eu disse “ok” e perdi os sentidos. Quando acordei, já no quarto, estava sendo esmurrada por ele. Acho com 99,9% de certeza que fui dopada por ele. Eu não tinha bebido tanto assim para acontecer isso — disse ela.
Segundo Elaine Caparroz, Vinícius fez questão de preparar a tábua de queijos e de servir o vinho. A garrafa havia sido aberta por ela mesmo, pouco antes. A paisagista também comprara os queijos para serem servidos no encontro, marcado após oito meses de muitas trocas de mensagens numa rede social.
A paisagista disse que o lutador a confundiu ao dar um nome falso na recepção do edifício onde ela mora. Ela acredita que Vinícius tenha se aproximado com alguma má intenção, embora ainda não saiba o que poderia ter motivado tanta brutalidade.
— O interfone tocou e disseram que Felipe queria subir para falar comigo. Respondi que não estava aguardando nenhum Felipe. Aí disseram que era Vinícius Felipe. Pedi para o funcionário do prédio confirmar se era o Vinícius Serra, como ele se identificava nas nossas conversas. Ele perguntou e Vinícius disse que era, sim, o Vinícius Serra. Por isso, o deixei subir. Agora que a gente analisa as atitudes dele, dá para saber que ele tinha intenção de fazer algum ruim comigo — disse Elaine Caparroz.
Para a Polícia Civil, o fato de Vinícius ter fornecido outro nome é um indício que o agressor premeditou o crime. Autuado por tentativa de feminicídio, ele foi transferido na última quarta-feira para hospital psiquiátrico do sistema penal, onde está fazendo exames de sanidade mental.
A paisagista também contou que Vinícius insistiu para encontrá- la no apartamento, após saber que ela morava sozinha. Antes, eles já haviam marcado outros encontros que acabaram sendo cancelados.
— Chegamos a marcar em outros lugares e até de ir à praia juntos, mas acabamos cancelando. Ele insistiu muito para vir. Disse para ele que não recebia homem no apartamento, mas, depois de oito meses de conversa no Instagram, ele ganhou a minha confiança e eu acabei caindo nessa. Durante as quatro horas em que fui espancada, ele só dizia para eu calar a boca, além de me xingar muito. Cheguei a perguntar por que ele estava fazendo aquilo comigo, mas ele só me agredia — contou.
A paisagista disse que os dois se beijaram durante o encontro, mas que não houve relação sexual.
Elaine Caparroz disse que pedirá à polícia para não voltar a encontrar Vinícius, porque está traumatizada. Mas ela afirmou que vai lutar por Justiça até o fim:
— Não quero ter que vê-lo novamente. Neste período em que fiquei internada, tive pesadelos com ele, e, por mais de uma vez, acordei gritando. Vou até ao fim nesta história. Quero Justiça por mim e por todas as mulheres que sofrem agressões no mundo. Não sei por que ele fez isso comigo.
Elaine Caparroz é mãe do lutador de jiu-jítsu Rayron Gracie, fruto de um relacionamento dela com Rayan Gracie. Ela disse que conseguiu resistir por tanto ao espancamento porque lutou com o agressor.
— Não cheguei a apreender jiu-jítsu, mas observei algumas lutas. Acho que isso me ajudou a resistir tanto tempo. Além disto, uma vizinha que é enfermeira foi uma das primeiras pessoas que me deram ajuda. Ela entrou no apartamento, após o Vinícius ser preso. Me colocou sentada e evitou que eu me sufocasse com o meu próprio sangue. Ajudou a salvar a minha vida junto com os médicos que me atenderam depois — disse.
A paisagista calcula que precisará de quatro meses para retomar sua vida profissional. E afirmou que, a partir de agora, terá mais cuidado ao se relacionar nas redes sociais:
— Jamais me encontrarei com uma pessoa com quem me relaciono numa rede social sem que ela tenha sido apresentada por alguém.

Postar um comentário

Please Select Embedded Mode To Show The Comment System.*

Postagem Anterior Próxima Postagem