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Suicídio: como você pode ajudar? Guia completo de prevenção - Bereu News

A prevenção do suicídio é um termo usado para as tentativas coletivas de organizações institucionais, psicólogos e pessoas envolvidas com a saúde, para reduzir a incidência de suicídio.



Possivelmente você já ouviu falar de alguém que tentou suicídio ou conseguiu o objetivo de tirar a própria vida. Há uma estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) de que aproximadamente 804 mil pessoas tenham tentado suicídio no ano de 2017.  
O número de pessoas que se suicidam no mundo hoje já supera o número de mortes por homicídio.
Continue a leitura desse texto e descubra quais ações podem ser adotadas em nosso cotidiano para ajudar você a promover a saúde emocional para as pessoas. Prevenir o suicídio é antes de tudo promover a vida, uma vida harmônica, com fraternidade e respeito!

Por que é tão importante falarmos sobre isso?

A OMS considera o suicídio um caso de saúde pública. É necessário falar sobre o tema para minimizar mitos, tabus e tratar o assunto com a seriedade que se deve.
O comportamento suicida é um fenômeno complexo e multifatorial. Fatores pessoais, sociais, psicológicos, culturais, biológicos, ambientais e entre outros, compõem a questão.
Em 2012, dados oficiais do Ministério da Saúde revelavam que a taxa de crescimento dos suicídios em todo país é superior ao crescimento da população.
São 2.200 casos confirmados por dia, um a cada 40 segundos. Mas, a cada dez casos de suicídio, nove são preveníveis. Isso nos diz que muito pode ser feito, para que essas pessoas não desistam de viver e possam retomar suas vidas com saúde e equilíbrio emocional. Além disso, homens se suicidam quase quatro vezes mais que do que as mulheres no Brasil.

O que leva uma pessoa a cometer suicídio?

O suicídio não tem uma causa única. Sempre envolve diversos fatores, é multideterminado.
As pessoas que pensam ou tentam tirar a própria vida estão passando por  um grande sofrimento e a dor emocional se torna tão grande que o desejo de interrompê-la é maior do que qualquer dor física que uma tentativa de suicídio possa causar.
Na maioria dos casos elas já procuraram ajuda anteriormente. Elas já procuraram ser ouvidas, mas não tiveram sucesso, não foram acolhidas em seu momento de dor. Geralmente elas já passaram por múltiplas buscas por ajuda que foram fracassadas.

Por que tantos suicídios?

O suicídio está relacionado ao aumento do número de transtornos mentais na nossa sociedade, tais como a depressão, o alcoolismo, o transtorno bipolar, o transtorno borderline e transtornos de ansiedade, etc.
Outro fator que contribui para o crescimento do suicídio é que na sociedade moderna há muito pouco espaço para o sofrimento e para o acolhimento de quem sofre.
As exigências de felicidade, sucesso, riqueza nunca foram tão intensas. Aquele que sofre, que não está bem, não encontra espaço nem acolhimento para expressar o que sente na maioria das vezes.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) prospectou que em 2030 a depressão será a segunda causa mais importante de incapacitação dos indivíduos.
Ainda há muito preconceito e desinformação sobre as doenças/transtornos mentais como a depressão e outros mais
Sim, doença, pois muitos ainda acreditam que não se trata de uma doença. É interessante ressaltar que a depressão não é “frescura”, “falta de coragem”, “falta de Deus”, “fraqueza”, ou qualquer outra coisa.
Depressão é uma doença. Como tal, precisa de tratamento adequado, assim como todos os demais transtornos. Ninguém escolhe adoecer de uma gripe, ninguém escolhe estar deprimido.

De onde vem nossos preconceitos e julgamentos?

Eu sei que muitas vezes passamos nós mesmos por grandes sofrimentos e seguimos damos o nosso jeito. Lutamos. E isso é muito bom. No entanto, somos todos diferentes, porque temos uma carga genética diferente e principalmente, uma história de vida diferente, que nos faz únicos e singulares.
No fundo não gostamos de lidar com o sofrimento e a dor do outro, porque eles remetem às nossas próprias dores e nem sempre estamos saudáveis emocionalmente o suficiente para não nos implicarmos, de forma negativa, na dor do outro.   
Então, se você passou ou passa por um grande sofrimento e resiste a ele, que bom! Mas, não é por isso que vamos banalizar o sofrimento de outras pessoas.
Que tal substituir a banalização pelo respeito? Respeite a diferença como o outro sente.
As comparações causam um grande dano para o bem-estar psíquico. Evite-as. Sofrimento não se compara. Apesar de que é comum hoje uma certa disputa entre as pessoas quando começam a comparar um sofrimento com o outro…
A dor emocional – de quem pensa ou tenta suicídio – pode se tornar tão grande, que o desejo de interromper a vida se torna maior do que qualquer dor física que se possa sentir.

Estamos ajudando ou prejudicando?

Estamos vivendo um momento social em que não podemos sofrer, não podemos ficar tristes, errar ou fracassar. Há muito pouco acolhimento entre nós.
Quando alguém fala sobre os próprios problemas a maioria de nós oferece soluções prontas para que o outro aplique, muitas vezes com um de julgamento: “como você se deixa abater assim? Por que não faz desse jeito? Pare de reclamar”.

O que podemos fazer?

Podemos começar justamente por não julgar ou banalizar o sofrimento do outro.
Um dos mitos muito comumente associado ao suicídio é de que se trata de uma tentativa de chamar atenção. Atribuir a uma tentativa de suicídio uma vontade de chamar atenção é banalizar o sofrimento humano. Infelizmente, essa é uma tendência bem comum na contemporaneidade: banalizar o sofrimento do outro.
Além do que, vale pensar a respeito disto: se uma pessoa tenta suicídio ainda que fosse para chamar atenção, isso quer dizer que ela está imersa num sofrimento imenso para chegar ao ponto de pensar em tirar a vida para conseguir atenção.
Ou seja, ainda que fosse para chamar atenção essa pessoa precisaria de ajuda e não que banalizassem seu sofrimento.
Quem pensa em suicídio vive um sofrimento intenso e vê como única saída para sanar esse sofrimento tirar a própria vida.
Essas pessoas não gostariam de morrer, mas chegaram a um ponto do sofrimento que para elas se tornou insuportável.
O que querem é parar esse sofrimento que as consome e as incapacita. Acreditam que no suicídio encontrarão essa forma de estancar o sofrimento.
Para não banalizar o que o outro passa algumas atitudes podem ajudar:

Doe um pouco do seu tempo para a escuta do outro

Todos sabemos o quanto a vida tem sido corrida. O quanto estamos sempre atarefados e correndo de um lado para o outro para darmos conta de todas as nossas atividades.
Mas, pense que se alguém te procurou para conversar algo pessoal, falar de algo que não vai bem na vida dela, essa pessoa confia em você e está pedindo a sua ajuda.
Você pode fazer uma grande diferença na vida dela apenas ouvindo-a.

Permita que ela fale livremente. Não a interrompa, nem a apresse

Falar da dor emocional é um processo doloroso. Se você estiver realmente apressado e sem tempo. Marque um outro momento para disponibilizar a sua escuta, e que seja logo.
E principalmente, se marcou para outro dia, outro momento, não esqueça de procurar a pessoa e dizer que está ali para ouvi-la. Não vale dizer que conversa com ela depois e ligar só no mês que vem.
Já pode ser tarde demais.

Não faça comparações

Não a compare com você, ou com o seu sofrimento.
Como já foi falado aqui, cada ser humano tem uma história genética, pessoal, cultural e ambiental que o compõem e o torna um ser único. As comparações são sempre danosas ao psiquismo.
Sofrimento não se compara. Sofrimento se escuta e se acolhe. Existem muitos pais que também fazem comparações entre filhos e isso é muito negativo.

Acolha o outro que sofre

Ofereça além de seu tempo uma escuta sinceramente atenta e interessada.
Olhe em seus olhos. Tenha uma fala mais branda. Cuidado com os gestos, o corpo fala. Nada de ficar olhando toda hora as mensagens do celular ou o relógio.
Se você estiver ali, mas com a atenção e o pensamento voltados para outro lugar, a pessoa irá perceber sua ausência e isso só vai contribuir com o seu sofrimento ao invés de amenizá-lo.

Não ofereça soluções prontas

Oferecer soluções prontas, poderá ser visto como uma forma de banalizar a dor do outro.
Outra tendência muito comum é quando alguém se dispõe a ouvir o outro sobre alguma dificuldade, ou problema, aquele que escuta começar a dar um monte de soluções prontas (geralmente carregadas de seus preconceitos, baseadas em suas história de vida e personalidade próprias) soluções essas que, possivelmente, além de não servirem ao outro, vêm carregadas de preconceitos e julgamentos.
Quem chegou num nível de sofrimento ao ponto de pensar em tirar sua própria vida precisa antes de tudo da escuta e da acolhida para poder falar desse momento de dor, precisam desabafar e se sentir compreendidos.
Nem sempre as pessoas estão procurando soluções para seus problemas, elas estão procurando acolhimento. Até porque uma ação para dar conta de um problema pessoal deve partir da análise e construção da própria pessoa.
Com a ajuda profissional adequada e necessária ele irá no futuro descobrir suas próprias e autênticas formas de lidar com o que está afligindo-o.

Ofereça-se para ir com a pessoa procurar ajuda ou certifique-se de que ela procurou por ajuda profissional

Você pode sugerir que ela procure uma ajuda profissional para tratar de seus problemas emocionais. Incentive-a deixando claro que os profissionais de saúde mental, como por exemplo, médicos psiquiatras e psicólogos são pessoas preparadas e treinadas para promover a saúde e a vida em amplo sentido.
Que aquele sofrimento pode estar relacionado a uma doença mental que tem tratamento e que ela pode melhorar e ter uma vida equilibrada e feliz ao realizar o tratamento adequado.
Indique também o CVV (Centro de Valorização da Vida) que tem atendimento por telefone ou online. Eles são especializados em casos de suicídio.
As pessoas que trabalham no CVV passam por treinamento específico antes de iniciarem os atendimentos, e hoje é referência para esses momentos de crise no Brasil.
Algumas clínicas-escolas nas faculdades de psicologia também dispõem do serviço de plantão psicológico, onde pessoas em crise podem ser atendidas.
Após sair da crise inicial o sujeito deverá realizar tratamento prolongado com psiquiatra e psicólogo.
Dê opções profissionais de ajuda como as citadas acima e pergunte se ela já procurou ajuda, assim que possível. Diga que vai ajudá-la a encontrar um profissional se for o caso. Ofereça-se para ir com ela nas primeiras consultas, se necessário.
Aquele que passa por ideações suicidas ou tentativa, precisa de toda ajuda de familiares e amigos para atravessar esse período.

Campanha Setembro Amarelo

Diante desse quadro de grande vulnerabilidade da vida, desde 2015 existe uma campanha brasileira de prevenção ao suicídio chamada de setembro amarelo. Nessa campanha, profissionais de saúde pública realizam diversas ações de prevenção ao suicídio e valorização da vida.
Ações como palestras, rodas de conversas, caminhadas e outros diversos tipos de eventos e atividades, onde se discute sobre a prevenção ao suicídio e promoção de saúde mental.
A psicologia tem um papel fundamental dentro dessa temática, visto que promover a saúde e o equilíbrio emocional é um dos pontos centrais do trabalho do psicólogo.
Através da psicoeducação, principalmente, visamos esclarecer os principais mitos relacionados ao tema, diminuir o preconceito e promover informações úteis e de qualidade a respeito dessa doença para população em geral.
Então, em setembro e em todos os outros meses do ano vamos ter uma atitude de escuta e acolhimento para com o outro e uma postura de não julgamento.
Dessa forma nós contribuímos para promover vida e para tornar a vida das pessoas e a nossa própria vida melhor. Promover a vida é prevenir o suicídio.

O atendimento psicológico online pode ser realizado nesses casos?

Não. A recomendação é que em casos de crise de ideação suicida a procura por ajuda deve ser direcionada ao CVV, que é a referência para esse tipo de atendimento em nosso país.
A resolução que permite o atendimento online vigente no momento só permite atendimento psicológico online na modalidade de orientação psicológica, o que significa uma terapia mais breve, pontual, acerca de uma questão focal. Num caso de ideação suicida essa modalidade de atendimento não se aplica.
Além disso, nesses casos, também há toda uma demanda de contato e interação com os familiares, médicos psiquiatras entre outros ajustes e acordos que se faz com a família, de modo que o atendimento psicológico fica inviável.
Acrescentaria ainda que num momento assim de crise lidar com questões tecnológicas, que são pertinentes e necessárias para o atendimento psicológico online seguro, podem vir a ser mais um fator estressor para o sujeito, contribuindo para piorar seu momento de crise.
Ainda que a partir de novembro de 2018 esteja em vigor uma nova resolução do Conselho Federal de Psicologia que permite o atendimento psicológico online em todas as modalidades, inclusive a psicoterapia de longo prazo. Essa mesma resolução continua não permitindo o atendimento psicológico online em casos de emergência e ideação suicida.
Contribuem para essa posição do conselho o fato de ainda não existirem estudos no Brasil que confirmem a eficácia do atendimento psicológico online nesses casos.
E o mais importante, para lidar com emergências e suicídio os profissionais precisam passar por um treinamento específico que os capacite a lidar com esse tipo de situação.  
As pessoas que atendem pelo CVV passam por treinamento específico e são qualificadas para isso.  
A partir de 02 de julho de 2018, o número do CVV (188) passa a valer para todo território nacional como número de apoio para quem está pensando em cometer suicídio. A ligação é gratuita. Além do telefone o CVV ainda disponibiliza atendimento pelo chat em seu site www.cvv.org.br o por e-mail. Eles atendem 24h/dia sete dias por semana.
Por fim a melhor coisa que você pode fazer para ajudar quem passa por uma crise intensa com ideações suicidas, além de acolher sem preconceito é apoiá-lo e encaminhá-lo para o tratamento adequado com o profissional de saúde mental.

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