“Uma boa interação entre pai e filho é um facilitador no desenvolvimento cognitivo e social”, diz especialista
“Às vezes ele marcava de vir me ver e não vinha…”. É o que diz Ana Clara, de 14 anos, que nunca teve contato muito próximo com o pai. “Quando eu nasci, ele e a minha mãe não estavam mais juntos”, conta.
A adolescente compartilha dessa realidade com muitos brasileiros que não convivem ou sequer possuem o nome do pai no registro. Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com base no censo escolar de 2011, apontam que 5,5 milhões de brasileiros não têm o nome do pai na certidão de nascimento.
Ter nome do pai e da mãe na identidade é um direito da criança. Mas, mais do que isso, a criança tem o direito à proteção e segurança do convívio parental.
O abandono afetivo consiste na omissão de cuidado, atenção, criação e assistência moral, psíquica e social. Segundo a especialista em direito de família, Thaiane Hora, a responsabilidade é desde a gestação. “É um dever irrenunciável, significando que o genitor não deve deixar de prestar auxílio e cuidado ao seu filho, criança ou adolescente”, afirma.
A estudante Ana Clara sabe o que é sentir a ausência de uma figura paterna desde o nascimento. O pai, que atualmente mora em outro país, raramente procura a filha, que diz se sentir magoada. “Mas, eu sempre busco perdoar”, pontua.
Para a psicóloga Milena Mendonça, o papel de um pai na vida de uma criança é fundamental na conquista da estabilidade emocional. “Uma boa interação entre pai e filho é, também, um facilitador no desenvolvimento cognitivo e social, o que auxilia no processo de aprendizagem e na convivência com a comunidade”, diz.
De acordo com a psicóloga, o abandono afetivo pode causar diversos tipos de transtornos, como disfunções psíquicas, agressividade e sentimentos de inadequação, o que pode, segundo a especialista, influenciar diretamente nos relacionamentos pessoais.
A psicóloga Iane Souza acredita que esse fenômeno pode desencadear, a longo prazo, indecisão e insegurança. Ela afirma que a privação do afeto por um longo período de tempo, pode acarretar em uma carência afetiva. “Isso, no futuro, poderá atrapalhar a maturidade cognitiva, física e emocional e social da criança”, esclarece.
Para Thaiane, a Ação Judicial de Danos Morais e Materiais por abandono afetivo é uma das mais delicadas. “O processo judicial não objetiva o cumprimento do dever do afeto, tampouco minimiza os danos causados no desenvolvimento da criança e do adolescente”, explica. De acordo com a advogada, a finalidade do processo é a condenação em dinheiro, como uma forma de punição, “porque não se pode impor juridicamente que alguém ame outra pessoa”.
A oficial de controle de qualidade Elizabete Andrade, de 26 anos, também não sabe o que é ter pai presente. Ela, que nunca conheceu seu pai biológico, tinha o avô materno como uma figura paternal. “Nunca senti falta do meu pai, porque não o conheci, mas meu avô supria a carência da presença de um pai”, relata.
Elizabete saiu da cidade em que morava ainda bebê, quando a mãe decidiu se mudar “para trabalhar e ter uma vida melhor”. “Minha mãe se mudou para outra cidade, assim que eu nasci, e ele não quis acompanhar. Desde então, nunca me procurou”, conta.
“A participação afetiva de um pai na vida de um filho promove segurança, autoestima elevada, independência e estabilidade emocional”, conclui Milena.
Campanha
O Esporte Clube Bahia lançou, no mês em que é comemorado o Dia dos Pais, em parceria com a Defensoria Pública da Bahia, uma campanha para o reconhecimento da paternidade.
Em Nome do Pai, lançado há uma semana, no dia 3 de agosto, é focado em crianças que não possuem o nome do pai no registro, como uma forma de conscientização.
O clube se colocou à disposição, durante uma semana, para realizar exames gratuitos de DNA, na Loja do Esquadrão, na Arena Fonte Nova. Na ocasião, dúvidas sobre registro de paternidade também foram tiradas.
No vídeo, um garoto, que veste uma camisa do Bahia, escreve uma carta para seu pai. Ao final, coloca seu presente em uma caixa, já que não tem como entregá-lo ao pai ausente.
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