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Redação do Enem 2020 é 'O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira'; professores comentam


Mais de 1,6 mil cidades terão provas neste domingo; em 58 municípios, exame foi suspenso devido à pandemia

O tema da redação do Enem 2020 é 'O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira'. A informação foi divulgada pelo ministro Milton Ribeiro em suas redes sociais.

Os candidatos terão que fazer um texto dissertativo-argumentativo, apresentar opiniões e organizar a defesa de um ponto de vista.


As redações são avaliadas de acordo com cinco competências, segundo o Inep. A nota pode chegar a 1.000 pontos, mas há critérios que podem zerar a redação, como fuga ao tema, escrever menos de sete linhas, entre outros. Em 2019, o tema foi 'Democratização do acesso ao cinema no Brasil'.


Análise de professores

Thiago Braga, professor de redação e autor do Sistema PH:

"Entre 2015 e 2018, os casos de depressão relatados aumentaram 52% entre brasileiros de 15 a 29 anos. Isso me chamou a atenção e trabalhei o tema em sala", afirma. "Isso indica que mais pessoas buscaram ajuda e que houve mais dispêndio de investimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas isso não diminuiu o estigma social. É neste ponto que o aluno deve tocar: a gente tem aumento de casos, mas a percepção do mercado de trabalho ainda é preconceituosa de muitas vezes demitir ou deixar a pessoa estigmatizada", completa.


Professor Milton Costa, do Curso Pré-Vestibular Oficina do Estudante:

"Tema importante, pertinente e dentro do padrão esperado para o Enem. Eles apresentam uma situação problema dentro da realidade brasileira. Neste caso, candidatos deveriam propor caminhos para vencer o estigma que persegue vários brasileiros que têm doença mental", afirma.


"Surpreendeu também que o tema se insurja contra ações recentes do próprio MEC, que propõe uma volta à discriminação de crianças com essas deficiências, e que já havia sido experimentada no passado, e que felizmente foram rechaçadas na Justiça, ainda que com liminares", afirma, referindo-se à Política Nacional de Educação Especial.


Professor David Gonçalves, do Colégio e Curso AZ

"Um tema acertado, sobretudo por conta de tudo que foi vivido em 2020, um ano muito simbólico no que diz respeito às discussões sobre saúde mental. Com certeza, a pandemia aprofundou as discussões sobre esse tema. Contudo, nos últimos cinco anos, esse já era um debate com mais protagonismo, sobretudo com a influência das redes sociais. O fato de a dinâmica social ter mudado em 2020, com grandes alterações no modo de trabalhar e estudar, interferiu na forma como os brasileiros lidam com a questão psicológica, com seus medos e ansiedades. Tudo isso alterou a maneira geral de pensar e agir das pessoas. Ao trazer esse tema, O Enem coloca em pauta, apesar de não ser o foco da frase temática, as alterações que a pandemia trouxe. Os alunos que acompanharam de perto esse processo e os fatos provavelmente terão mais capacidade para desenvolver a redação."


"A presença da palavra estigma no tema é um ponto relevante. Quando o Enem a utiliza, de alguma forma, sugere uma perspectiva negativa em relação a quem sofre de algum tipo de problema relacionado à saúde mental. Existe uma boa chance de os alunos abordarem o tema saúde mental sem levar em conta a palavra estigma. Assim, estará correndo risco de tangenciar o tema e ter um desconto significativo na nota. Portanto, era preciso considerar a questão do tema à luz de possíveis estigmas, ou seja, contextualizando em uma sociedade que tem perspectiva negativa, deturpada e estereotipada em relação a quem sobre algum tipo de doença mental."


Sérgio Paganim, coordenador de Linguagens do Curso Anglo

"O tema do Enem 2020 tem vários aspectos envolvidos. Primeiro, estigma. Essa conotação negativa que a sociedade atribui às doenças mentais, talvez muito ligado ao histórico de tratamento manicomial e também por uma falta de informação e conhecimento mais consistente a respeito das doenças, do que significam e de como são tratadas. Este estigma pode trazer pouca visibilidade que a sociedade então deixa de perceber a doença como algo relevante, o que implica em poucas ações do estado para mitigar o problema. As questões das doenças mentais podem ser avaliadas em contraponto às doenças físicas, perceptíveis. As mentais têm o estigma de serem consideradas ou problemas de saúde ou falta de vontade.


Esse ano a gente teve o filme “O Coringa”, que também aborda a questão das doenças mentais; as portarias sobre saúde mental que estão em discussão, se o governo vai revogá-las ou não; o SUS com assistência psiquiátrica e mesmo as patologias mentais agravadas pela pandemia também compõem um cenário para discutir as doenças mentais.


A intervenção aqui pode ter várias questões: o Estado, o Ministério da Saúde, o SUS, ampliando o atendimento, criando políticas públicas de inclusão e proporcionando mais informação para as novas gerações por meio da escola e não só por meio das campanhas, como tem acontecido do Setembro Amarelo. Claro que isso tudo são apenas reflexões gerais. Precisamos dos textos da coletânea para perceber qual é o recorte que a banca realmente fez do tema, mas aí a gente tem várias questões ligadas ao estigma, à doença mental em si, a um contexto mais recente que pode intensificar a discussão e as intervenções."


Maria Catarina Bózio, coordenadora de redação do Poliedro

"Tema possibilita que aluno coloque em discussão temas em alta em todo ano passado. foram colocados em pauta volta de alguns tratamentos como eletrochoque, internações em manicômio e um certo reforço de políticas públicas aos discursos capacitistas e mesmo de estigmatização.


Como repertório, os alunos tinham, de forma bastante acessível, o diálogo com literatura brasileira, Machado de Assis, colocando "O Alienista". Mais próximo da sua dinâmica cotidiana, o próprio uso de palavras pejorativas, como "retardado". Pensar em algumas figuras brasileiras icônicas do assunto, como o artista Artur Bispo do Rosário, a médica Nise da Silveira, que foi uma das primeiras em contexto nacional a defender claramente uma política antimanicomial."


Simone F. G. Motta, coordenadora de Português do Colégio Etapa

"O tema é um assunto de interesse coletivo e sempre atual, de fundo social, que impacta diretamente na forma como a sociedade acolhe o indivíduo portador de uma dessas síndromes.

O estudante poderia conduzir seu texto apresentando algumas das diversas síndromes existentes, várias de conhecimento público, tais como ansiedade, depressão, déficits de atenção, transtornos de desenvolvimento – incluindo o autismo –, esquizofrenia e outras psicoses, por exemplo e, a partir delas, discorrer sobre a forma como essas síndromes afetam o relacionamento interpessoal, por meio de relações preconceituosas e que promovem a incompreensão, ou, ainda, a intolerância.


Além disso, também poderia ser usada a constatação – sobretudo em época de pandemia, como a que estamos vivenciando nesse momento – de que os transtornos mentais continuam crescendo, com impactos significativos sobre a saúde, com consequências sociais que envolvem soluções que respeitem os direitos humanos.


Tendo em vista que a redação do Enem cobra propostas de intervenção para o problema, o candidato poderia se apoiar em ações facilitadoras no processo de inserção desse indivíduo, de modo que os estigmas sejam minimizados e a inclusão ocorra de forma natural, sempre respeitando os direitos humanos."


Enem da pandemia

As provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020 começaram às 13h30 desde domingo (17). Elas serão aplicadas em 1.689 cidades, de acordo com números do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia do Ministério da Educação (MEC), responsável pela prova.


O Enem 2020 estava previsto para ocorrer em novembro, mas foi adiado devido à pandemia e ocorre agora em meio ao pior momento de transmissão de casos.

Em 58 cidades, as provas não vão acontecer. As suspensões foram determinadas pela Justiça em todo o estado do Amazonas (56 cidades) e em duas cidades de Rondônia (Espigão D'Oeste e Rolim de Moura).


Dos 5.687.397 inscritos na versão impressa do Enem 2020, 159.338 deixam de fazer o exame no Amazonas, 2.863 em Rolim de Moura (RO) e 969 em Espigão D'Oeste (RO).

Veja perguntas e respostas sobre as questões judiciais que envolvem a realização do Enem 2020


O exame terá ainda a versão digital, nos dias 31 de janeiro e 7 de fevereiro. São esperados 96 mil candidatos para esta modalidade, que acontecerá pela primeira vez nesta edição.

Até as 20h deste sábado (16), treze estados registravam alta nas mortes: AL, AM, GO, MG, MT, PE, PI, RJ, RN, RR, SE, SP e TO. Eles somam 3,1 milhões de inscritos no exame (54,25% do total).


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O Enem é considerado o maior vestibular do país, e a nota serve para disputar vagas em universidades e ter acesso a programas de bolsas (Prouni) ou financiamento de mensalidade (Fies). Candidatos ouvidos pelo G1 dizem estar pressionados entre o sonho de ter uma graduação e o risco de se contaminar.


A aplicação do Enem tem sido alvo de disputas judiciais, devido à pandemia. A prova, prevista originalmente para novembro de 2020, foi adiada para janeiro deste ano – mesmo após enquete com participantes indicar o mês de maio de 2021 como a opção mais votada pelos estudantes. Segundo o governo, a prova em maio atrasaria o cronograma de outros programas de ingresso no ensino superior.

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