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Jovem morto em escadaria estudava para fugir de preconceito por ser negro e da favela

 "A gente investiu tanto na educação dele, para ele ser o homem que ele era", desabafou pai do estudante morto na Fazenda Grande do Retiro


A escadaria com mais de 50 degraus  e que há sete meses levava Luiz Carlos Mendes Cerqueira Júnior, 23 anos, ao curso de radiologia no bairro de Nazaré, foi a mesma que serviu de cenário para o triste fim do rapaz, que foi assassinado a tiros na Fazenda Grande do Retiro nesta terça-feira (24). Inconformado, pois sabia que o filho era cheio de planos, o vigilante Luiz Carlos Mendes Cerqueira, 55, desabafou: “Até quando os pais vão enterrar seus filhos? A lei de Deus diz que os filhos têm que enterrar os pais e não o contrário!”. 


Amparado por parentes e amigos, o vigilante esteve pela manhã desta quarta-feira (25) no Instituto Médico-Legal Nina Rodrigues (IMLRN) para a liberação do corpo do filho. Emocionado, ele falou dos planos do rapaz. “Fazia o curso de radiologia em Nazaré. Estava finalizaria no final deste ano com o propósito de fazer faculdade de Educação Física. Ele só pensava nisso. Era a alegria dele e da mãe. Era o que ele queria fazer. A gente investiu tanto na educação dele, para ele ser o homem que era, porque a gente sabe do preconceito que existe pelo fato de ser negro e morar na favela. Teria uma carreira linda, mas a vida foi retirada de forma abrupta”, declarou.


Antes do curso de radiologia, o filho do vigilante trabalhou nos almoxarifados do Hospital das Clínicas, onde a mãe trabalha, e numa farmácia.  “Ele sempre foi um menino que sempre estudou e trabalhou cedo, para ter um futuro diferente, não ser igual a muitos que se envolve com a criminalidade. Até quando vamos conviver com isso? Hoje foi ele, amanhã será outro jovem de bem? Meu filho tinha pretensão de casar, comprar uma casa, construir uma família e de repente perder tudo de uma forma tão violenta”, disse o pai. 


Questionado sobre quem poderia ter cometido o crime, o vigilante disse que não sabia, mas que espera que a polícia se esforce para prender os responsáveis. “Não sei quem teria intenção de fazer isso com ele. Cabe à polícia responder isso e não a família. Mas espero que haja empenho (da polícia) para solucionar o caso, porque a gente não viu isso em outros casos, porque a vítima era negra e morava na favela. Não quero que o caso dele entre na estatística dos crimes sem solução”, desabafou. 


Crime

O crime aconteceu em uma escadaria da Rua Pedro Araújo, que faz ligação com a Avenida San Martin, por volta das 18h. O pai do jovem, Luiz Carlos Mendes Cerqueira, contou que o filho descia a escadaria quando foi atingido por seis tiros pelas costas. Ele morreu no local. A Polícia Civil informou que o crime será investigado pela 3ª Delegacia de Homicídios (DH/BTS) e ainda não há mais detalhes sobre os autores dos disparos. 


O pai contou que o filho saiu de casa rumo ao curso de radiologia em Nazaré. Dez metros depois da residência, o rapaz começou a descer a escadaria. Já no final, ele foi baleado. “Não foi troca de tiros como estão dizendo. Foi uma execução. Ele foi morto com seis tiros pelas costas. Seguiram ele, com certeza. Aproveitaram que o horário tinha pouco movimento de pessoas e o pegaram por trás, uma covardia”.


Luiz Carlos era o segundo filho do pai e o único da mãe. Os pais são separados, mas ambos moram no mesmo bairro. Momentos depois do crime, o pai recebeu a ligação de que o filho havia sido baleado. Quando chegou no local, encontrou ele já morto.  “Não foi troca de tiros como estão dizendo. Foi uma execução. Ele foi morto com seis tiros pelas costas”, contou o pai.


Moradores

A maioria dos moradores ouvidos pela reportagem não quis falar. Um e outro aceitou conversar e disse que o rapaz era uma pessoa trabalhadora, que não se envolvia com a criminalidade, porém foi vítima da violência que atualmente atinge a região. “A gente não sabe se a morte do rapaz tem a ver com essa briga entre eles, que o rapaz ia todos os dias para o curso, mas não há dúvida de quem fez isso com seja envolvido, pois eles estão se matando por aí e isso acaba para quem não entra em nada”, disse um morador.


O comerciante das imediações relatou que ultimamente a região vem sofrendo com tiroteio constantes. “A situação aqui está barril. Infelizmente mataram um rapaz de bem. Ninguém ao certo sabe o que aconteceu e nem o motivo, mas nos últimos dias, isso aqui está igual à Valéria, Jardim Santo Inácio, Bom Juá, com essas guerras entre facções que não acaba nunca. Essa briga deles a gente já sabe como é: não querem saber quem está passando, querem matar o rival ou descontar a raiva em alguém da comunidade”, contou.

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