O termo de compromisso afirma que a família só terá que arcar com os custos de luz, água e taxa de lixo

A família do congolês Moïse Kabagambe, que foi espancado e morto no último dia 24, vai administrar o quiosque onde o crime ocorreu até fevereiro de 2030 sem pagar aluguel, segundo a Prefeitura do Rio de Janeiro. Um termo de compromisso foi assinado nesta segunda (7).
O projeto havia sido divulgado no sábado (5), mas agora foi formalizado em uma reunião entre o prefeito Eduardo Paes (PSD), os irmãos e a mãe da vítima, Ivana Lay, e representantes da concessionária Orla Rio, responsável pelos estabelecimentos.
"A
 nossa sociedade repudia o crime brutal de que o Moïse foi vítima. 
Sabemos que a perda de vocês não vai ser reparada com essa atitude, mas 
queremos que a memória do Moïse fique viva e que esse ato tão brutal 
seja permanentemente lembrado para que as pessoas não repitam", disse 
Paes.
O termo de compromisso 
afirma que a família só terá que arcar com os custos de luz, água e taxa
 de lixo enquanto durar o contrato de concessão dos quiosques Tropicália
 e Biruta, que são colados, localizados na Barra da Tijuca (zona oeste carioca).
A
 cessão do segundo local ainda depende de pendências na Justiça –a 
concessionária tem que retomar a posse do lugar, que foi cedido pelo 
operador original a terceiros. Quem o administrava era um policial 
militar e sua irmã, segundo os funcionários afirmaram à polícia.
Um
 dos três presos temporariamente pelo homicídio, Aleson Cristiano 
Fonseca, trabalhava ali. Já Brendon Alexander Luz da Silva trabalhava na
 Barraca do Juninho, em frente aos quiosques e também gerida pelo 
policial. O terceiro preso, Fabio Pirineus da Silva, vendia caipirinhas 
na areia.
A Orla Rio
 prometeu que vai dar suporte jurídico e contábil e treinamento em 
gestão à família de Moïse, assim como já acontece com os outros 
operadores. Afirmou que vai reformar o espaço e instalar equipamentos e 
mobiliário, conforme projeto que ainda tem que ser aprovado pelos 
parentes.
A ideia é que os dois quiosques sejam transformados em uma 
espécie de memorial em homenagem à cultura africana, incluindo um painel
 com uma foto do jovem morto. A intenção é que os funcionários 
contratados sejam refugiados do continente.
"Gostaríamos
 de agradecer ao povo brasileiro pela solidariedade. A gente sabe que 
essa ação que aconteceu com o meu irmão não é o coração de todo o povo 
brasileiro, mas de delinquentes. Recebemos muitas mensagens, muito apoio
 de muitas instituições", disse o irmão do congolês Samy Kabagambe no 
evento.
A ação conta com 
parcerias da Fundação João Diamante, do SindRio (Sindicato de Bares e 
Restaurantes do Rio), da gestora de alimentos Danni Camillo e do 
Instituto Akhanda.
O Governo do 
Estado do RJ também recebeu 11 integrantes da família nesta segunda, com
 participação por telefone do governador Cláudio Castro (PL). A 
secretaria de Desenvolvimento Econômico ofereceu uma linha de crédito 
por meio da AgeRio (Agência Estadual de Fomento).
Já
 a pasta de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos disse que eles 
poderão entrar no programa Provita, que visa proteger vítimas ou 
testemunhas de ameaças. Parentes de Moïse relataram ao jornal Folha de 
S.Paulo que se sentiram intimidados por dois policiais militares que os 
abordaram após o crime em duas ocasiões, o que está sendo apurado pela 
Corregedoria da PM.
A secretaria 
de Assistência à Vítima, por sua vez, afirmou que já atua no atendimento
 psicológico dos familiares e que ofereceu aulas de jiu-jitsu ao irmão 
mais novo de Moïse, de 7 anos, no polo estadual de Madureira.
A Defensoria Pública
 do estado também se reuniu com a família nesta segunda e informou que 
vai dar assistência jurídica, cuidar das questões relacionadas à 
reparação cível e prestar apoio para que a permanência do grupo no 
Brasil seja regularizada.
"Sabemos que nada é capaz de reparar a perda de um ente querido, sobretudo da forma brutal como foi. Mas estamos aqui para colocar nossa instituição inteiramente à disposição de vocês naquilo que nos cabe, que é buscar indenização, pensão, o que for cabível", disse o defensor-geral, Rodrigo Pacheco.
O advogado 
Rodrigo Mondego, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ, 
seguirá representando a família nas questões referentes à ação criminal contra os agressores.