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'Um homem correto, devotado e generoso': conheça o perfil do padre sequestrado em Porto Seguro

      (Foto: Reprodução)

Crime assustou e indignou os fiéis de uma das paróquias mais antigas do país

Um homem correto, devotado e generoso. São com esses adjetivos que os paroquianos de Vale Verde, em Porto Seguro, descrevem o padre Antônio Sérgio Andrade Pires, de 39 anos. O religioso foi agredido e sequestrado por quatro homens, no sábado (03), quando chegava de carro à Casa Paroquial. Nesta segunda-feira (05), um dos envolvidos no crime, um menor de 17 anos, foi apreendido pela polícia, que segue investigando o caso. Segundo os agentes, sequestros nessa mesma modalidade que vitimou o pároco se tornam cada vez mais comuns na região. 


 “Ele [o padre Antônio] nunca teve confusão com ninguém, sempre foi pessoa muito atenciosa, disponível. É um missionário, vai na periferia, nas roças. Sempre tem a motivação em querer ajudar”, conta um religioso que pediu para não se identificar. 

A Diocese de Eunápolis, há 55 km de Porto Seguro, emitiu nota informando que após a terrível experiência, o padre Antônio se encontra bem fisicamente e está sendo acompanhado e assistido pelos irmãos da sua congregação. 


O religioso cuida há dois anos da Paróquia Divino Espírito Santo, uma das mais antigas do Brasil. Fiéis contam que ele costuma fazer eventos beneficentes com apoio da prefeitura de Vale Verde. A violência contra uma pessoa tão querida e atuante na comunidade gerou assombro e revolta entre os paroquianos.

“Como qualquer evento que envolve violência, [estão] todos consternados. Por se tratar de um ato violento contra um padre, pior”, diz a moradora de Vale Verde, Terezilda Delgado. 


Após o sequestro na noite de sábado, o padre enviou uma nota aos fiéis para cancelar a missa de domingo e esclarecer o caso. “Perdão a todos os meus paroquianos do Vale Verde por me encontrar física, psicológica e emocionalmente impossibilitado da assistência espiritual. Estou com um pequeno corte na cabeça, marcas nos pulsos, sem dormir e bastante cansado. Mas estou em casa e [providenciaremos] valores materiais com o tempo. Muito obrigado pela solidariedade de todos”, escreveu.


Padre em evento de 2021

A reportagem tentou conversar com o padre Antônio, mas a Diocese de Eunápolis informou que optou por não expor o religioso pois ele precisa descansar e está emocionalmente esgotado. 


Motivação do crime

O adolescente de 17 anos apreendido nesta segunda-feira (05) confessou ter participado do sequestro do padre Antônio Sérgio. A prisão aconteceu após policiais militares do 8° Batalhão receberem denúncia anônima que apontava a localização de um dos envolvidos no sequestro. Segundo a informação, o suspeito se encontrava escondido no distrito de Sapirara, também em Porto Seguro. O adolescente foi conduzido para a adoção das medidas legais. 


Responsável pelo caso, o delegado titular de Arraial d'Ajuda, Valfredo Neto,  explica que casos de sequestro com agressão física e seguidos de roubo têm sido comuns na região. O adolescente apreendido confirmou que faz parte de uma quadrilha que atua cometendo sequestros. A linha de investigação descarta motivação política para o ataque ao padre,

Ainda na segunda, o carro do religioso foi encontrado em Itabela, município a 60 km do onde aconteceu o crime. Durante o sequestro, os criminosos roubaram o veículo e os pertences da vítima, abandonando-a na rodovia, com lesões corporais decorrentes das agressões praticadas pelos bandidos. O delegado Valfredo Neto afirma que a polícia vai submeter o carro encontrado à perícia para coletar evidências. O padre já foi ouvido. 


Moradores de Vale Verde também acreditam que o padre foi uma vítima aleatória. “Procuro evitar locais e horários inadequados, pois como em qualquer distrito de Porto Seguro, há o problema com os dependentes de drogas ilícitas”, diz Terezilda. 


Relembre o caso 

Segundo a Polícia Civil, o padre Antônio chegava à casa paroquial por volta das 21h, após realizar cerimônia de casamento em Trancoso, no sábado (3), quando foi abordado. Quatro homens participaram do sequestro. Três desembarcaram de um veículo Chevrolet Celta, anunciaram o assalto e obrigaram o religioso a seguir com eles no carro que ele dirigia, um VW Crossfox. O quarto suspeito permaneceu no Celta e ficou dando apoio aos comparsas. O padre foi amordaçado e agredido com socos e coronhadas. 


Depois de dirigirem por horas, os sequestradores deixaram a vítima amordaçada e amarrada perto do Parque Nacional do Pau-Brasil, em Porto Seguro. Eles levaram o carro e R$ 120. O pároco caminhou até conseguir socorro, por volta das 3h30 da madrugada de domingo (04). Paroquianos levaram o padre até um posto policial, onde a denúncia foi feita. 


Religião x Violência

Representantes da Igreja Católica Apostólica Romana em Porto Seguro, denominação cristã ao qual o padre Antônio Sérgio pertence, não quiseram se manifestar sobre o ato de violência sofrido pelo religioso. Já o bispo da Igreja Católica Apostólica Independente do Brasil, Dom Márcio Tranquilli, ressaltou que a violência só vai acabar quando a desigualdade social for resolvida.


 “Não que justifique a pessoa fazer mal ao outro, mas as pessoas precisam aprender a partilhar. É importante que volte a ter educação de qualidade nas escolas, que as pessoas voltem à catequese para aprender coisas importantes”, afirma. 

Tranquilli disse ainda que não está acompanhando o caso, mas que Cristo também veio à Terra em momentos de ódio e o objetivo dele era justamente mudar a mentalidade dos seres humanos. “A posição de Cristo vem trazer a paz, mas uma paz que nos leva ao encontro do outro, ao bem-estar do próximo”, salienta. 


Casal foi alvo de sequestro em Eunápolis em outubro 

O sequestro do padre não é situação isolada. Um casal teve a caminhonete roubada após sequestro relâmpago, em Eunápolis, em outubro. O casal foi surpreendido com os assaltantes na residência fazendo ameaças, agressões e realizando tentativas de transferência bancária utilizando o celular de uma das vítimas. 


Devido ao horário de restrição bancária, o casal foi feito refém e colocado na própria caminhonete. Em uma estrada que fica nas proximidades de Vera Cruz, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal, eles foram torturados com uma arma apontada para a cabeça e receberam ameaças de morte. Pouco mais de duas horas, o casal foi abandonado pelos sequestradores. As vítimas pediram ajuda em um posto de combustível, onde acionaram a polícia. 


Uma equipe da PRF, que realizava ronda na BR 101, pela região de Eunápolis, foi informada do sequestro e que quatro homens estavam em uma caminhonete Nissan/Frontier, de cor cinza. Pouco depois, com a intensificação da vigilância, os agentes avistaram um carro suspeito em um posto de combustível.

O motorista do veículo, percebendo que a polícia deu ordem de parada, não obedeceu os agentes e fugiu do local. Após minutos de perseguição, o condutor perdeu o controle da Frontier e bateu de frente com um poste. Os suspeitos abandonaram o veículo e fugiram, começando uma troca de tiros.


Os homens conseguiram fugir. Durante a ação, foram apreendidos uma escopeta, um revólver, 26 munições de diversos calibres, touca ‘ninja’, além de aparelhos celulares. Todos os materiais foram entregues à Polícia Civil.

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