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Entenda que aplicativo é esse que está por trás da onda de ameaças a escolas baianas

Investigações apontam que adolescentes foram incitados a promover ataques por meio do Discord


Redes sociais de todos os suspeitos de causar pânico nas escolas de Salvador passaram a ser monitoradas pela Polícia Civil, cujas investigações revelaram um aplicativo por trás de boa parte das ameaças e planos de ataque: a plataforma de jogos e bate-papos Discord. Ela se tornou o alvo de maior atenção, por permitir o contato de crianças e adolescentes com pessoas que estimulam missões violentas na vida real. 

A vigilância sobre as atividades virtuais do grupo na mira da polícia foi tomada após um estudante de 20 anos afirmar que foi chantageado e coagido por criminosos a ameaçar professores e colegas por meio de um aplicativo. A partir daí, a polícia colocou a plataforma no radar das investigações sobre a onda de ameaças e ataques a unidades de ensino na capital e interior do estado. 

O Discord foi lançado em 2015, com o objetivo de ampliar o contato entre jogadores de todas as partes do mundo, antes limitado pelo texto do chat dos games. A interface da plataforma permite que os usuários formem comunidades privadas ou abertas, conversem por áudio e enviem fotos e vídeos. Atualmente, o uso do aplicativo inclui a comunicação entre startups e grupos de trabalho. Mas o público principal é composto por crianças e adolescentes. 

De acordo com o presidente da Comissão de Direito Digital da Ordem dos Advogados do Brasil na Bahia (OAB), Diogo Lima, a grande presença de jovens é um dos fatores que torna aplicativos como o Discord atrativos para criminosos. O outro é a característica de ser um espaço virtual, onde os crimes são menos suscetíveis a investigações, quando comparado à vida fora das telas. 

A maior parte do público que instiga atos de violência pelo Discord integra grupos de ódio. Eles sempre existiram na história recente, mas viram no ambiente virtual uma maneira mais fácil de se manterem ativos.  Normalmente, os jogos escolhidos pelos jovens são de tiros, com classificação indicativa superior a 16 ou 18 anos, linguagem imprópria e, em alguns casos, conteúdo sexual. 

Os jogos têm narrativa fundamentada em matar o inimigo. No geral, criaturas fantasiosas ou extintas.  A temática violenta serve de elo para a maioria dos delitos de ódio na internet.  Basicamente, crimes contra honra: calúnia, difamação e injúria. O efeito comum é a disseminação de tais práticas nas escolas. O que é pulo para que estudantes sofram cyberbullying, ou seja, o bullying virtual. 

Essa conexão cria uma brecha para coagir crianças e adolescentes a cometer delitos fora dos jogos. “Existem agentes que, com a intenção de criar caos, induzem os mais jovens à prática [dizendo]: ‘Como seus amigos da escola estão fazendo isso com você (bullying), porque não se vinga deles e de todo mundo lá, já que eles te odeiam?’”, afirma Diego Lima, da OAB.

App dominado por jovens vira usina para grupos de ódio

Estudante de Engenharia de Software, Lucas Souza, 21 anos, costuma usar a plataforma para assistir filmes à distância com a namorada e se comunicar com jogadores. Segundo ele, é comum ver comentários negativos e xingamentos contra pessoas gordas, negras e homossexuais nas conversas do Discord.

A plataforma disponibiliza recursos para denunciar usuários ou expulsá-los das salas por votação. Mas quando isso não é feito, o discurso de ódio costumam ser reproduzido ou estimulados com risos e emojis de incentivo. O universitário classifica o Discord como mais positivo do que negativo, embora reconheça que muitos usuários da ferramenta confundem liberdade de expressão com discurso de ódio.

“A onda de influenciadores digitais e gamers fez com que crianças e adolescentes seguissem carreiras como essas.  Seus seguidores, na maioria, são homens de meia idade. A prevenção começa por monitorar quem elas seguem e quem as segue”, afirma Diego Lima, presidente da Comissão de Direito Digital da OAB da Bahia

Conhecer hábitos dos estudantes, identificar sinais de mudança no comportamento, usar o controle parental para limitar a navegação na internet, acompanhar o histórico de acessos também ajudam na prevenção. Mas a maior ferramenta, recomendada por todos os especialistas, é o diálogo aberto com crianças e adolescentes.

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