A homofobia foi um dos assuntos mais comentados da internet nos últimos dias, após um caso de agressão contra o influenciador e ator Victor Meyniel. O artista estava saindo do apartamento de um rapaz que conheceu em um bar e foi agredido brutalmente por ele, na entrada do prédio, em Copacabana, no Rio de Janeiro.
As imagens das câmeras de segurança do local registraram o momento exato do ocorrido, que viralizou nas redes sociais e rendeu uma série de debates sobre o tema. Victor chegou a se pronunciar publicamente e acusou o agressor, Yuri de Moura Alexandre, de homofobia.
"O ator Victor Meyniel foi agredido na entrada de um edifício no RJ. Nas imagens, é possível observar o porteiro, que permaneceu inerte, sem oferecer qualquer assistência durante o incidente. O agressor foi detido, e o porteiro agora enfrentará acusações de omissão de socorro." pic.twitter.com/OcX56xIS7r
— CHEQUEI (@ichequei) September 3, 2023
Entretanto, engana-se quem pensa que estes casos não acontecem na Bahia. Segundo um levantamento feito pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), o Brasil é o país onde mais LGBT+ são assassinados no mundo, contabilizando uma morte a cada 34 horas.
“Infelizmente, esses números variam muito de ano para ano. No governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, era uma média de 200. No período Lula, 300 mortes por ano. E no governo Dilma Temer, ultrapassou 400. O governo Bolsonaro novamente reduziu por volta de 200, 300”, informou Luiz Mott, fundador do GGB.
A região Nordeste liderou o ranking de mortes contra LGBT+ em 2022, com uma média de 43,3% das mortes (111). O estado da Bahia assume a primeira posição com 27 mortes (10,5%) causadas por homofobia, reforçando a importância de medidas de segurança efetivas para esse público.
Casos na Bahia
Um dos casos mais recentes de homofobia na Bahia aconteceu em maio deste ano, em Salvador. O influenciador Jeferson Moreira Santos, conhecido na web como Baiano Santos fez uma denúncia contra o gerente da loja que ele trabalhava, afirmando que foi chamado de “florzinha”, “marica” e diversos outros insultos de cunho homofóbico.
O rapaz também sofreu um golpe “mata-leão” e acabou entrando em luta corporal com o chefe, sendo demitido logo em seguida. Baiano chegou a dar entrada em um processo trabalhista, contra a loja Jacaúna Móveis, e em um processo criminal, contra o gerente.
Em conversa com a reportagem do BNews, o presidente da Comissão de Diversidade Sexual e Gênero da OAB/BA, Ives Bittencourt, afirmou que o estado ainda não acolhe as vítimas da forma correta. “Temos acompanhando o crescimento de violências LGBTQIAPN+fóbicas e o despreparo do Estado e Município no acolhimento das vítimas”, disse ele.
“A pessoa violada acaba encontrando diversos entraves para denunciar a violência, como por exemplo dificuldade em ter sua identidade de gênero, orientação sexual, pronomes e nome social respeitados, falhas que se tornam novas violências estruturais e institucionais, durante busca para sanar a celeuma principal”, ressaltou.
“O Estado e Município precisam adotar capacitações em diversidade sexual e gênero para seus agentes, como também criar delegacias especializadas para essa comunidade, considerando os altos índices de violência que nos deparamos diariamente”, concluiu.
Medidas para reduzir os números
Os dados mostram que a homofobia ainda é algo enraizado na sociedade e precisa de medidas eficazes para conter o crescimento dos casos ao longo dos anos. Questionado sobre o tema, Luiz Mott ressaltou que a educação e as políticas públicas são as principais chaves para diminuir os números de mortes no Brasil.
“É possível controlar e erradicar a homofobia através das seguintes medidas a curto e médio prazo. Primeiro, educação sexual científica obrigatória em todos os níveis escolares ensinando jovens e adolescentes o respeito à livre orientação sexual e a identidade de gênero”, explicou o representante do Grupo Gay da Bahia.
“Segundo, políticas públicas que garantam a cidadania da população LGBT, que representa por volta de 20 milhões de brasileiros e brasileiras, mais de 10% da nossa população. Medidas que garantam a segurança, que garantam o atendimento de saúde quando tem necessidades específicas, etc. E cotas universitárias para travestis e para gays, porque são muito discriminados e tem que ter políticas de reparação dessas discriminações”, reforçou.
Mott ainda fez um apelo para a comunidade LGBT. “A terceira medida é que a legislação já aprovada, que garante a cidadania LGBT seja cumprida. Que os delegados investiguem em profundidade os crimes contra LGBT, que os juízes julguem e condenem severamente tais crimes e quarta e última medida um apelo para a própria comunidade LGBT para que saia do armário, que denuncie sempre que for vítima ou presenciar qualquer discriminação homofóbica. Direitos iguais, nem menos e nem mais”, concluiu.