Lipedema afeta entre 12% e 15% das mulheres brasileiras


Muitas vezes vista como natural em pessoas obesas, essa gordura inflamada provoca dor

Muitas vezes visto como algo natural em pessoas obesas, o lipedema é caracterizado por uma desordem do tecido adiposo, resultando na deposição de uma gordura inflamada em certas partes do corpo. A diferença entre o que visualmente seria chamado de gordura localizada e o lipedema é a presença de dor naquela região, sendo que a dor também surge frequentemente nos joelhos.

Representante da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular - Regional Bahia (SBACV-BA), Miriam Takayanagi explica que essa gordura pode se depositar nas pernas e nos braços e o mecanismo provocador dessa alteração no tecido ainda não é conhecido. O lipedema ocorre quase exclusivamente em mulheres, sendo bastante incomum seu surgimento em homens.

“A gente identifica alguns fatores de risco. Tem uma influência genética, pessoas que têm parentes com lipedema têm uma predisposição maior, o distúrbio também está associado aos hormônios. Quando a menina começa a menstruar ou quando a mulher tem uma gestação, com o aumento dos hormônios ela pode apresentar o início da doença, essa deposição dessa gordura inflamada”, detalha a cirurgiã vascular.

Quanto à confusão entre a gordura naturalmente apresentada por pessoas obesas e o lipedema, a especialista aponta que não é tão difícil diferenciar, especialmente porque a perda de peso não elimina essa gordura inflamada. Ela recorda ter atendido uma mulher em quadro de desnutrição grave e lipedema em estágio avançado, então as coxas dela mal encaixavam na cadeira de rodas que precisou usar.

Segundo a médica, um estudo nacional apontou uma prevalência de 12% a 15% entre as mulheres brasileiras, no entanto o lipedema ainda é pouco conhecido da população em geral. Em sua experiência, o mais comum é receber pacientes com queixas relacionadas a varizes e durante o exame acabar descobrindo que a pessoa tem lipedema, pois ela vai relatando dor quando alguma pressão é exercida nas partes afetadas.

“O lipedema também afeta os vasos. Esse ambiente inflamado deixa os vasos mais frágeis, então a paciente chega no consultório falando: ‘Doutora, eu fico roxa. Eu nem tive nenhum trauma, mesmo assim tenho várias manchas’”, comenta Miriam. Essas equimoses, comumente confundidas com hematomas pela população em geral, são também um sinal do lipedema. 

Embora exames complementares possam ser realizados, sobretudo para a verificação de alguns marcadores inflamatórios, o diagnóstico do lipedema é clínico e o tratamento conservador passa necessariamente pela adoção de uma dieta saudável e equilibrada e pela prática regular de atividade física, conta a representante da SBACV-BA.

A adoção de uma terapia compressiva é parte fundamental do tratamento e pode ser efetivada de diferentes formas, explica a médica. A paciente pode utilizar as tradicionais meias elásticas, usar uma meia especial feita de material mais rígido e conhecida como meia de maratona, ou lançar mão de calças de compressão. “Diminui o edema, se houver, e diminui a dor”, acrescenta.


Cirurgia

A depender do estágio do lipedema - a variação é de 1 a 4 - e dos impactos gerados na vida da paciente, o tratamento pode incluir a realização de cirurgia. “Aquelas pacientes que sentem muito incômodo, peso nas pernas, desconforto, têm um volume de gordura nas pernas aumentado, normalmente quando elas se incomodam muito com isso, o tratamento cirúrgico pode ajudar bastante”, explica o cirurgião plástico Franklin Mônaco. 

O especialista ressalta que antes da intervenção cirúrgica, a pessoa precisa estar fazendo o tratamento conservador por pelo menos seis semanas, para estabilizar o quadro da paciente e eliminar a inflamação. O procedimento mais aplicado é uma lipoaspiração naquelas áreas onde o lipedema está. 

“A gente costuma infiltrar uma quantidade maior de líquido, é uma lipoaspiração que a gente chama de tumescente”, detalha Mônaco, destacando que essa técnica é poupadora dos vasos linfáticos. Se após o procedimento, a paciente ficar com excesso significativo de pele pode ser necessário fazer a retirada cirúrgica. “Quando a flacidez é pequena ou até moderada, a gente pode lançar mão de algum tipo de tecnologia para estimular essa retração de pele”, comenta.

O tempo de recuperação e retomada da rotina normal vai variar de acordo com o porte da cirurgia e ocorre sempre de forma gradual, esclarece o cirurgião. Ao longo desse período a paciente deve fazer um acompanhamento com fisioterapeuta, que aplicará técnicas específicas para esse pós-operatório. O tratamento conservador deve ser mantido continuamente para manutenção da qualidade de vida da paciente.


Complicações podem causar edema na região afetada

Uma complicação que as pacientes com lipedema em estágio avançado podem apresentar, o linfedema é uma doença caracterizada pelo surgimento de edema, um inchaço, no membro atingido, em decorrência de uma falha no funcionamento do sistema linfático. Representante da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular - Regional Bahia (SBACV-BA), Miriam Takayanagi ressalta que o linfedema pode aparecer isoladamente ou associado a outras patologias.

O sistema linfático transporta a linfa - líquido que fica nos tecidos - através de vasos capilares e dos linfonodos. Quando essa circulação da linfa não ocorre de forma adequada, há um desequilíbrio entre o extravasamento de líquido e a capacidade de transporte desse material, resultando na formação de edema. 

Um bebê pode já ter linfedema, conta a médica, em decorrência de ter nascido com poucos vasos linfáticos ou os vasos sofreram um estrangulamento em alguma parte da perna, por exemplo. Quando esse líquido não é reabsorvido dos tecidos, mas sim retido neles, ocorre o edema que caracteriza o linfedema. Em adultos, esse distúrbio do sistema linfático é mais comum em mulheres, embora possa ocorrer em homens.


Não tem cura

Na fase inicial, o edema tem uma textura mole, é possível pressionar o local, mas com o passar do tempo, o aspecto se altera e o edema começa a ficar duro, pois é formado por líquido e proteínas, comenta Miriam. Ela acrescenta que o linfedema.

pode ser secundário a algum trauma na região onde surge ou até mesmo a uma intervenção cirúrgica, a exemplo daquelas que retiram linfonodos, algo necessário em algumas cirurgias oncológicas.

O linfedema não tem cura e seu tratamento é similar ao adotado no lipedema, exigindo exercício físico, especialmente de fortalecimento muscular, e orientação nutricional. A terapia compressiva com enfaixamento ou uso de meia de maratona é fundamental, ainda mais que no lipedema, enfatiza a cirurgiã. 

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