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Proibição do uso de celular nas escolas divide pais e especialistas



Projeto de Lei em tramitação na Bahia pretende vetar a utilização dos aparelhos até mesmo no intervalo

O uso de celular dentro das escolas está proibido no Rio de Janeiro desde o início de fevereiro, e pelo menos outros seis estados adotam algum tipo de restrição aos aparelhos. Com um Projeto de Lei (PL) sobre o tema aguardando votação na Assembleia Legislativa, a Bahia pode ser o próximo a adotar esta medida. A proposta é mudar a relação dos estudantes das redes pública e privada com o celular, restringindo sua presença nas salas de aula e também durante o intervalo.

Enquanto isso, algumas escolas já adotam medidas restringindo o uso dos equipamentos, caso do Colégio Miró, com turmas que vão da educação infantil ao ensino fundamental 2. Para os alunos até 10 anos, os aparelhos são proibidos e não devem sequer ser levados para a escola, explica a diretora Cândida Muzzio. A possibilidade de extensão para os estudantes a partir de 11 anos está em discussão.

A possibilidade de proibição pela legislação estadual é bem vista por Cândida, pois seria um suporte para facilitar o avanço dessas restrições. “A gente entende que esses meninos são nativos digitais, que tem muitas coisas que eles fazem para estudar, para aprender, no celular, e a gente vai fazer um processo de discussão com eles”, acrescentando um projeto formativo, em andamento, para ajudá-los a estar na escola sem celular.

O PL do deputado estadual Roberto Carlos (PV) propõe a proibição do uso de celulares, tablets e dispositivos similares nas escolas de educação básica da rede pública e privada da Bahia. Segundo o projeto, os estudantes devem permanecer com seus aparelhos desligados e guardados em suas mochilas ou bolsas. A exceção fica para alunos com deficiência ou problemas de saúde que necessitem dos equipamentos para monitoramento ou auxílio.

Caso o PL seja aprovado, os celulares só poderão ser manejados no ambiente escolar quando os professores demandarem essa utilização para o desenvolvimento de atividades com fins pedagógicos.

Presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado da Bahia (Sinepe-BA), Jorge Tadeu Coelho diz que a entidade considera essa medida necessária. “O excesso de uso dos aparelhos celulares tem gerado no âmbito da educação, desde dispersão a consumo de conteúdos que não contribuem com o desenvolvimento das crianças e adolescentes”, argumenta.


Em concordância com o previsto no Projeto, o Sinepe defende que essas tecnologias devem ser empregadas apenas em práticas pedagógicas. “O professor no seu plano de aula deve pensar nas estratégias de ensino e considerar os meios mais adequados. Depois do uso, deve ficar guardado”.

O Relatório Global de Monitoramento da Educação divulgado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) no ano passado cita pesquisas que apontam uma correlação negativa entre o uso excessivo de tecnologias da informação e comunicação e o desempenho dos estudantes. Segundo o documento, quase um quarto dos países membros da Organização proibem smartphones nas escolas.


Outros caminhos

“Depois da popularização dos smartphones tem muitos estudos sobre a forma como as pessoas são influenciadas por esses aparelhos, tanto positivo quanto negativamente. Tem questões ligadas não apenas ao desenvolvimento psicomotor, o desenvolvimento neurológico, o desenvolvimento fisiológico e o desenvolvimento motor fino, por conta da posição dos dedos”, declara Karina Moreira Menezes, professora da Faculdade de Educação e superintendente Acadêmica da Ufba.

No outro extremo, ela ressalta: “É fato que as redes sociais, usadas através dos celulares, são viciantes, também tem muito estudo sobre isso. Elas condicionam nossa visão de mundo, sequestram nossa subjetividade, ou seja, elas modificam o jeito como a gente sente e modificam nosso comportamento. As pessoas se espelham naquilo que veem nas redes sociais, mesmo que aquilo não seja real”.

Para Karina, o debate sobre smartphones e similares nos ambientes escolares não pode ficar restrito à ideia de proibição, porque “o lugar de discutir esses problemas é também na escola”. Em sua avaliação, como o conhecimento é construído na prática, uma estratégia mais interessante é problematizar a forma de uso dos celulares ensinando outras maneiras de utilizar o aparelho.

O caminho da conscientização também é defendido pelo coordenador da APLB Sindicato, entidade dos professores da rede pública, Rui Oliveira. “Acho que deve ter uma política de preocupação, de recomendação, e conscientização da utilização de novas tecnologias no processo educacional, de maneira que isso seja discutido entre toda a comunidade escolar. Proibir por proibir, eu sou contra. Não constrói nada!”.

Para a Secretaria Municipal da Educação, “o uso de tecnologias, como tablets e chromebooks, é importante em atividades de apoio ao processo de ensino e aprendizagem, bem como à acessibilidade e inclusão”. A nota da pasta informa que os equipamentos citados fazem parte do cotidiano dos alunos na rede municipal e “o uso de aparelhos celulares e smartphones é secundário em sala de aula, podendo ser utilizados em situações pontuais e específicas, com finalidades pedagógicas”.

Procurada pela reportagem, a Secretaria da Educação da Bahia sinalizou que ainda não tem regulamentação sobre o tema.

Mãe de um adolescente de 16 anos cursando o 2º ano do ensino médio, a professora de inglês Carolina Pinho é a favor da proibição do uso de celulares em sala de aula. Em sua avaliação, “a geração mais jovem apresenta dificuldade de foco e atenção sustentada, sendo o celular mais um motivo para distração, dificultando o aprendizado”.

Ela acrescenta as questões de privacidade, pois alunos muitas vezes fotografam e filmam colegas e professores sem consentimento, e ainda postam nas redes sociais. “Quando converso com outras mães, ouço relatos contrários à proibição porque estas acreditam que deva haver um contato e acesso contínuo aos filhos. Eu acredito que a escola deva ser o contato”, argumenta.

Mãe de Júlia, de 11 anos, estudante do 7º ano do ensino fundamental, a assistente social Sueli da Conceição Oliveira é uma das defensoras do porte dos celulares para comunicação com os responsáveis, mas sem utilização dentro da sala, para evitar distrações e ansiedade para verificar notificações.

Para a coordenadora pedagógica do programa A TARDE Educação, Márcia Firmino, “é crucial a implementação de políticas e estratégias eficazes para maximizar os benefícios do uso de celulares, ao mesmo tempo em que abordam essas preocupações de forma responsável”. A utilização desses aparelhos esteve entre os temas discutidos no workshop e webinar “Tecnologia e Educação - Um olhar na práxis pedagógica”, realizado pelo programa na última quarta-feira.

Entre os aspectos positivos, Márcia ressalta o acesso a uma ampla gama de recursos educacionais, a exemplo de livros digitais, vídeos educativos, aplicativos de aprendizado e sites de referência. “Isso pode enriquecer o processo de ensino e aprendizagem”. Por outro lado, há “a possibilidade de distrações, questões de privacidade e segurança, desigualdade de acesso aos dispositivos e o potencial para o cyberbullying”.

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