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Morre Dona Cabeluda, a cafetina mais famosa do Recôncavo da Bahia


Causa da morte ainda não foi divulgada

A mais famosa cafetina de todo o Recôncavo baiano, Renildes Alcântara dos Santos, conhecida como Dona Cabeluda, morreu nesta segunda (6), na cidade de Cachoeira. Proprietária de uma tradicional brega, Cabeluda morreu aos 80 anos, no hospital regional do município. A causa da morte ainda não foi divulgada. 

Dona Cabeluda nasceu em Itabuna, no sul da Bahia, e saiu de casa aos 12 anos porque era espancada pela família. Em matéria publicada pelo jornal Correio em 17 de agosto de 2018, a jornalista e colunista Flávia Azevedo conta a história de Renildes, que também foi mãe, avó e bisavó.


Confira trechos da reportagem especial

A fuga de casa incluiu o casamento com um homem de 30 anos, que assumiu o papel de agressor. Teve uma filha, cansou das surras. Separou, entregou a filha à família e ganhou o mundo. Primeiro, vendendo bebidas na praia. Um dia, uma amiga a levou a um lugar e disse: “Aqui é um brega”. “Fiquei cabreira, mas me acostumei”, diz D. Cabeluda, que reclama apenas do fato de ter sido obrigada a beber, por donos e donas de bordéis, no início da sua vida profissional.

Aracaju, Feira de Santana e Candeias estiveram na rota até que, em Cachoeira, encontrou seu lugar. As surras na infância e o sofrimento por ser obrigada a ingerir álcool, sem gostar, são as únicas queixas, durante toda a nossa conversa. Todo o resto parece leve nas palavras da senhora que cuida do estabelecimento com mãos de ferro, não gosta de bagunça nem som alto, não permite drogas nem menores de idade e não cobra percentual das moças que trabalham no bordel.

D. Cabeluda é mãe, avó e bisavó. Além de três filhas biológicas, adotou outras oito crianças. Hoje é a matriarca de uma grande família. É ela quem faz a comida preferida da bisneta que sempre chora querendo um pouco mais do dengo da bisa. Dela, vieram os conselhos para que o filho “assanhado” voltasse para a esposa.

É nas mãos dela que chega a solicitação de material escolar de uma outra criança e muitos pedidos de pessoas que sabem o que ela diz e vive: “Se eu tiver, eu divido, não deixo de ajudar”. Quase 60 anos “na vida” forjaram uma mulher que olha de cima, a quem poucas coisas podem assustar. “Sei labutar com juiz, com ladrão, com polícia, com puta, com mulher casada... sei labutar com todo mundo”.


Personagem de livro

A historiadora Gleysa Teixeira Siqueira transformou sua dissertação em livro: ‘Uma História de "Cabeluda": Mulher, Mãe e Cafetina’. Lançado em 2022, o livro apresenta as vivências e memórias de Renildes, além dos depoimentos de moradores de Cachoeira. A narrativa também propõe discussões sobre os estudos de gênero no Brasil, relacionando com as problemáticas da trajetória de vida da mais famosa cafetina do Recôncavo.

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