Presidente do Sindicato dos Professores da Bahia acredita que a educação virou um alvo preferencial no processo de fascistização da sociedade
Padronização dos livros didáticos, professores sem autonomia e foco em provas de vestibular transformam a educação, cada vez mais, em uma fábrica de robôs. As escolas têm exercido o papel fundamental de transformar o processo de aprendizagem em um sistema de reprodução. Essa tendência, que foi destaque na última edição do Jornal Metropole, é alvo de críticas de Allyson Mustafa, presidente do Sindicato dos Professores da Bahia (Sinpro).
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“Para ter-se uma formação humanística, é preciso romper a lógica da formação escolar voltada para aprovação em vestibulares e no Enem. E esta lógica não é nova. Mas há outro fator: a educação virou um alvo preferencial, junto com a cultura, no processo de fascistização da sociedade. As escolas deixaram de ser lugar de debate e reflexão e passaram a ser lugar de mera aplicação de conteúdos”, disse ele.
Escolha controversa
Ele ainda pontua que sempre houve a disponibilização de livros didáticos e os livros nunca foram perfeitos. “A diferença é que, agora, com sistemas de ensino, aquilo que era possível ao professor manejar com os livros das mais diversas editoras, com os sistemas de ensino há pouco ou nenhum espaço”. Ou seja, o que já era difícil, ganha nuances de um complicador que tem origens muito antes da aula começar.
O momento de escolha dos livros usados durante o ano letivo é crucial para o presidente. No entanto, a participação dos professores nessa decisão está sendo cada vez mais negligenciada. “A escolha de livros didáticos feita pelas direções e donos de escolas fere um direito estabelecido na Convenção Coletiva de Trabalho da categoria docente, que em sua Cláusula 14a, em seu parágrafo 3°, estabelece que os professores participarão da escolha e indicação do material didático, o que não tem ocorrido”, ressalta ele.
Processo constante
A forma de atuação do profissional na sala de aula é outro componente que tem uma nascente muito anterior, elemento fundamental nessa estrutura. “A formação de um professor é um movimento contínuo, uma eterna obra em progresso. Ninguém sai da faculdade professor formado. Os estudos, os estágios e a lida diária formam um professor. Esta formação está precarizada, sobretudo com professores sendo formados em cursos à distância. Mas a lógica de um sistema que transformou educação em mercadoria é a razão dos problemas, o empobrecimento da educação é um projeto”, finaliza o educador.