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Delegado vaza áudio de depoimento do adolescente que matou mãe e irmão

Polícia Civil vai abrir inquérito para investigar vazamento e identificar quem ajudou a viralizar áudio


A Polícia Civil da Paraíba vai abrir um inquérito para investigar o vazamento do áudio com o depoimento do adolescente de 13 anos que matou a mãe e o irmão caçula, além de ferir o pai, em Patos, no interior paraibano. O trecho do depoimento foi vazado pelo delegado responsável pelo caso, Renato Leite.


Leite teria encaminhado por engano o áudio, de seis minutos e meio, para uma outra pessoa através de um aplicativo de mensagens na segunda (21). "Houve uma falha. O próprio delegado ficou surpreso e reconheceu o erro. Foi um trabalho (a investigação do crime) cauteloso muito bem sucedido. Esse erro não pode macular o papel que o delegado Renato Leite desempenhou no caso", disse o delegado-geral da Polícia Civil da Paraíba, André Rabelo ao portal T5.


O juiz Bruno Medrado, da Vara da Infância de Patos, comentou, em entrevista à TV Tambaú, que haverá punição para quem recebeu e propagou os áudios com informações sigilosas do processo, já que é considerado um crime. "Não é só a primeira que vaza que vai ser responsabilizada. Todo mundo que repete isso e vai mandando para outras pessoas é passível à punição. A pessoa que recebeu esse áudio e começou repassar, ela também tem responsabilidade", explicou o juiz.


Medrado também confirmou que recebeu manifestação pública por parte da Corregedoria da Polícia Civil, assumindo que o vazamento partiu de lá. "Eu mesmo recebi esse áudio em grupos. Já dei uma olhada ontem e praticamente já descartei que o vazamento tenha ocorrido dentro do processo, pois fica registrado quem entrou e quem olhou", explicou. 


O juiz alertou ainda que a situação deve ser investigada também pelo Ministério Público, já que o depoimento viralizado nas redes sociais fere o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). "Em todos os casos envolvendo qualquer adolescente, eles têm que ter o direito a preservação da intimidade, o sigilo das informações, isso tá no ECA", completou.


O crime

Um adolescente de 13 anos matou a tiros a mãe Iranilda de Sousa Medeiros Araújo, de 47 anos, e o irmão mais novo, Gabriel de Sousa Medeiros Araújo, de 7 anos, dentro de casa, no município de Patos, sertão da Paraíba. O crime aconteceu na tarde do último sábado (19), depois de uma discussão por notas baixas e proibição de jogos online pelo celular. O pai do menino, que é um PM reformado, também foi baleado no tórax, perdeu os movimentos das pernas e segue internado com hemorragia pulmonar.


Momentos antes do crime, o pai do garoto tomou o celular do filho e justificou com o mal desempenho escolar. Em seguida, ele foi até uma farmácia comprar remédios para esposa. Foi nesse momento que o adolescente pegou a arma do pai, que estava "bem guardada" em um "armário de ferro fechado" no escritório, segundo o delegado Renato Leite.


"A mãe aguardava no quarto, deitada, dormindo. Ele chegou, encostou a arma na cabeça dela e efetuou um disparo contra a mãe", relatou Leite à TV Sol.


Por conta do barulho, o irmão mais novo do adolescente saiu de outro quarto e, quanto percebeu o que havia acontecido, começou a brigar com o adolescente. Armado, o jovem chegou a correr atrás do irmão, mas foi surpreendido pelo pai, que havia retornado para casa. 


"O pai chegou, tentou intervir para que ele soltasse a arma, e ele terminou efetuando um disparo contra o pai, que caiu na sala. O irmão, ao ver o pai caído, foi tentar socorrer, o abraçou, foi quando ele (o adolescente) atirou no irmão pelas costas", contou o delegado.


Ainda de acordo com Leite, o menino pediu socorro e tentou forjar um cenário de assalto dentro de casa. "Depois, friamente, ele guardou a arma onde estava, chamou o Samu e tentou fazer (parecer) que tinha sido um assalto, que (ladrões) tinham entrado. Mas depois de todas as diligências que fizemos, a gente conseguiu elucidar esse caso", explicou. 


Depoimento

O menino contou à polícia que se sentiu pressionado por cobranças para estudar e cumprir tarefas domésticas, como arrumar a cama ou lavar a louça. O delegado contou à TV Sol, que o rapaz estava tirando notas baixas e passava a maior parte do tempo em casa jogando online. 


"Ele alegou que a motivação pra ter cometido o que fez foi porque os pais estavam privando ele de jogar um jogo. O jogo que ele estava jogando era "Roblox". A motivação, que ele alegou ter sido a gota d'água hoje", afirmou o delegado, com base no depoimento do adolescente. "Eu percebi que ele, quando soube que o pai ainda estava vivo, se assustou. Acho que ele estava mais satisfeito se todos os três tivessem falecido", concluiu o delegado.


Frieza

“Em nenhum momento ele chorou ou demonstrou emoções. Chegou a mostrar surpresa, e uma aparente frustração ao saber que o pai tinha sobrevivido”. A declaração impactante é do delegado Renato Leite, que está à frente das investigações do caso. 


De acordo com o delegado, o adolescente foi encaminhado para o Centro Socioeducativo de Sousa, no interior da Paraíba, onde deve ficar inicialmente por 45 dias. 


Em entrevista ao UOL, a autoridade policial classificou como "um momento terrível o depoimento", mas sugeriu que é preciso acolher o garoto. "Não tenho qualificação para traçar o perfil dele, mas ele precisa de acolhimento. Os pais tentavam educá-lo, como acontece nas famílias, mas ele viu isso como uma tentativa de impedimento de ficar no celular e nos jogos online, então decidiu acabar com o que achava que era o problema, no caso, a família", afirmou ele. "É um caso chocante, algo terrível”.  


O inquérito já está quase concluído, aguardando apenas alguns laudos para ser encaminhado ao Ministério Público.


Sob forte comoção, os corpos da mãe e do irmão do adolescente foram enterrados. Uma multidão acompanhou o cortejo e o enterro das vítimas. Vizinhos da família fizeram uma corrente de oração na frente das casas pedindo paz.


Estado de saúde do pai

O médico intensivista Marcelo Henrique, um dos responsáveis pelos cuidados ao policial reformado de 56 anos, afirmou que um sangramento pulmonar é o que preocupa a equipe médica na atual fase do tratamento. Apesar disso, o estado de saúde do homem é considerado regular. 


"A parte neurológica dele está bem. A grande preocupação da gente agora é a parte pulmonar, já que ele teve um sangramento dentro do tórax. E o local onde a bala afetou na coluna. Ela fez um trauma raquimedular, ali na 11ª, 12ª costela”, disse.


Quanto a uma possível sequela, o profissional relatou ser cedo para fazer qualquer menção. Segundo ele, o paciente apresenta “fraqueza nas pernas". 


"Às vezes acontece de ter apenas uma contusão no local, apenas um ferimento local que o corpo pode recuperar. E a gente tem que aguardar. Nesse momento ele tem uma fraqueza nas pernas mas a gente não pode dizer que é permanente."


o PM reformado vem sendo acompanhado por uma equipe multidisciplinar, composta por psicólogos e funcionários do serviço social, em conjunto com a fisioterapia. 


Ao UOL, médico-cirurgião Caio Guimarães afirmou que o policial está paraplégico. 

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