Em nota, o advogado da escola apontou que "trata-se de um pequeno acidente" e que "não houve qualquer consequência grave ou falha na prestação do serviço"
Os pais de uma criança de um ano e meio denunciaram o Colégio Ideal Sênior, localizado no bairro de Piatã, em Salvador, após o filho aparecer com marcas de mordida no rosto e no corpo em três ocasiões diferentes. Após a última agressão, que aconteceu nesta terça-feira (5/11), o menino precisou ser socorrido e levado para um hospital.
Segundo o pai do menino, que prefere não ter o nome divulgado, a criança estava sendo atacada por um colega de sala, que é cinco meses mais velho. Na segunda (4), o garoto voltou para casa com uma mordida na panturrilha. Na terça-feira (5), por volta das 14h, a mãe da vítima recebeu uma mensagem da diretora e proprietária da unidade de ensino, que não terá o nome divulgado, solicitando que ela fosse até o local para conversar.
Chegando lá, a mulher recebeu a notícia de que o filho havia sido mordido novamente, com mais gravidade. Em entrevista ao Aratu On, o pai da criança relatou, emocionado:
“O menino estava com duas funcionárias no banheiro. O rosto do meu filho está soltando pedaços. Fico com os olhos cheio de lágrimas só de falar isso. Está faltando pedaço das duas bochechas. Ele mordeu a pálpebra do olho esquerdo do meu filho, mordeu o lóbulo da orelha dele, mordeu dentro da orelha. Mordeu o bíceps, o antebraço duas vezes e a mão dele”.
A escola nega, no entanto, que esteja “faltando pedaço” do rosto da criança. Informou que acompanhou o menino e a mãe dele ao Hospital São Rafael, onde foi realizada limpeza antisséptica e receitado um spray também antisséptico, além da orientação para colocar gelo. De acordo com a família, a equipe médica informou que, devido à gravidade das lesões, seria necessário acionar o Conselho Tutelar.
Os familiares também disseram que as imagens de câmeras de segurança mostram que o menino e a outra criança estavam sozinhos em uma sala no momento em que as agressões aconteceram.
A proprietária do local relatou que as crianças estavam na sala de soneca, espaço supervisionado por meio de uma câmera de segurança. Uma funcionária, que fica em outro cômodo do colégio, é responsável por vigiar as câmeras dessa e de outras salas da unidade.
Ainda segundo a proprietária, os garotos ficaram sozinhos, mesmo depois das mordidas anteriores, porque ela não imaginou que a criança mais velha acordaria e morderia o colega. “Na minha cabeça, ele mordia por causa de um brinquedo, por causa de uma massinha. Não me toquei que ele podia acordar e morder”, lamentou. Além do menino deste caso, o pequeno de 1 ano e 10 meses já havia mordido outros colegas de sala.
Ainda na noite dessa terça, o pai do garoto registrou um boletim de ocorrência na Delegacia para o Adolescente Infrator (DAI) e levou a criança para realizar o exame de corpo de delito. Após o ocorrido, a família decidiu tirar o menino da escola e só matriculá-lo em outra unidade de ensino no ano que vem.
Na manhã desta quarta (6), de acordo com o pai da vítima, a filha da proprietária da escola foi à casa da mãe da criança com duas pomadas para ajudar no tratamento de saúde dele. “É essa assistência que eles dizem que prestaram”, reclama ele. Essa informação, contudo, de acordo com a dona da escola, não procede.
O QUE DIZ A ESCOLA
Em nota, o advogado do colégio, Gabriel Coelho, apontou que “trata-se de um pequeno acidente” e que “não houve qualquer consequência grave ou falha na prestação do serviço”.
Segundo o comunicado, no momento do incidente as “crianças estavam dormindo em local apropriado e monitorado por câmeras”, e “o colégio prestou todo o suporte cabível e disponibilizou as imagens aos responsáveis”. O pai da vítima, porém, afirmou que não teve acesso às filmagens, apenas a capturas de tela da câmera de segurança.
“Por fim, esta instituição reafirma o seu compromisso com a proteção e o cuidado com todos os seus estudantes e se coloca à disposição para dirimir quaisquer dúvidas”, finaliza.
Leia, abaixo, a nota na íntegra:
“O colégio informa que não houve qualquer consequência grave ou falha na prestação do serviço.
Trata-se de um pequeno acidente decorrente do processo de integração, aprimoramento dos sentidos e da fase de crescimento dos dentes das crianças.
No momento do ocorrido as crianças estavam dormindo em local apropriado e monitorado por câmeras.
O colégio prestou todo o suporte cabível e disponibilizou as imagens aos responsáveis.
Por fim, esta instituição reafirma o seu compromisso com a proteção e o cuidado com todos os seus estudantes e se coloca à disposição para dirimir quaisquer dúvidas“.
Em conversa com o Aratu On, a diretora e proprietária da escola, fundada há 37 anos, lamentou o ocorrido e disse que nunca aconteceu um caso como esse no local. Ela também ressaltou que não culpa a mãe ou a criança que mordeu: “Se alguém tem culpa, sou eu, que não me toquei que isso poderia acontecer”.
“O menino está na fase de morder. Ele já tinha mordido alguns alunos e eu já tinha conversado com a mãe. Mas eu sei que não é uma coisa que muda de uma hora para outra. É uma fase que as crianças de 2 anos passam”, concluiu.