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PT aposta em 'Grupos de Zap Evangélicos com Lula' para furar bolha de fiéis alinhados a Bolsonaro


Diante da expressiva vantagem do presidente Jair Bolsonaro (PL) entre o eleitorado evangélico, a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva está apostando em uma conhecida arma do bolsonarismo: a mobilização da militância em grupos de Whatsapp. Nas últimas semanas, o PT vem criando dezenas de grupos no aplicativo de troca de mensagens voltadas para esse segmento onde são distribuídos conteúdos feitos sob medida para viralizar entre os fiéis. O objetivo é tentar atingir um público que em muitos casos vive em uma bolha digital dominada por conteúdos bolsonaristas.

A estratégia do partido é reunir nesses espaços religiosos que já são simpatizantes de Lula. Nos grupos, eles recebem de coordenadores ligados ao partido tarefas e materiais para distribuir em suas próprias redes — e nas de suas respectivas igrejas — com o objetivo de combater fake news sobre o PT, atrair indecisos e criar campanhas negativas contra Bolsonaro. Grande parte dos conteúdos são sobre a agenda de costumes e buscam mostrar que Lula é contra pautas como o aborto e a legalização das drogas.

Além disso, essas turmas do aplicativo também estão se tornando ambientes onde evangélicos que possuem posicionamento de esquerda se sentem à vontade para expressar suas visões ideológicas. Muitos denunciam sofrer pressão de lideranças e alguns afirmam que estão abandonando suas igrejas por perseguição política.

Diariamente os “Grupos de Zap Evangélicos com Lula” (como são batizados) estão sendo bombardeados com textos, vídeos, imagens e áudios com defesas de Lula e ataques a Bolsonaro. Nos últimos dias, por exemplo, um dos conteúdos que mais circulou em grupos monitorados pelo GLOBO foi um texto sobre a declaração “pintou um clima” que o atual presidente deu sobre meninas venezuelanas.

“‘PINTOU UM CLIMA’? CONFIRA OUTRAS VEZES QUE BOLSONARO DESRESPEITOU NOSSAS CRIANÇAS!”, diz a abertura de um texto, em letras garrafais, seguida de um vídeo com as falas de Bolsonaro. “Pedofilia não é de Deus e Bolsonaro NUNCA representará os valores e princípios da Igreja de Jesus”, prossegue a mensagem conclamando que os integrantes compartilhem o conteúdo em outros grupos.

Muitas correntes são acompanhadas de versículos bíblicos, como forma de conectar a linguagem dos religiosos à militância política. "Bolsonaro é mentiroso” anuncia um comunicado que segue com a passagem “A testemunha sincera não engana, mas a falsa transborda em mentiras. (Provérbios 14:5)".

Atualmente há mais de 80 grupos que chegam até o máximo de 256 participantes, com segmentações para líderes, mulheres e jovens evangélicos. A analista de comunicação política Stéffane Azevedo, que atua na mobilização de moderação destes grupos, diz que a campanha busca passar mensagens de acordo com as necessidades deste público.

— A ideia é virar votos dentro das igrejas. Muitas vezes eles falam que suas igrejas estão sem informação sobre um determinado assunto e buscamos saber as dúvidas e preocupações — diz Azevedo.

Os fiéis mais engajados compartilham figurinhas e memes afinados com o universo digital dos “irmãos crentes”, como stickers afirmando que Lula criou o Dia Nacional do Evangélico. Além disso, usam citações bíblicas para comentar sobre o noticiário da campanha e organizam círculos de oração em prol do PT.

O espaço também vem sendo usado para fieis denunciarem o proselitismo político vindo de pastores que pedem voto em Bolsonaro e acusam a esquerda de ser contra os valores cristãos.

Integrante da Assembleia de Deus e moradora de Niterói, Leandra Bretas, que integra um dos grupos, enxerga esses grupos como espaços de comunhão entre evangélicos que estão engajados por Lula. Ela afirma que costuma ver muitos relatos de perseguição e ela própria já foi alvo de ataques após expressar sua visão política.

— Um dia me chamaram de filha de Satanás. Outros falaram que eu não sou apóstolo coisa nenhuma, porque sou petista. Uns mandaram mensagem me chamando de judas que eu estava traindo a Jesus e a bíblia — diz a religiosa.

Nos grupos monitorados pela reportagem pipocaram outros relatos desse tipo. "Misericórdia, o pastor fez a cabeça da minha irmã pra votar no ‘bozo’ e hoje ela não conversa comigo mais", diz uma mulher. "Samuel Câmara transformou a Assembleia de DEUS (Belém/Pará) em um Quartel do ‘Minto’! Mentirosos Fariseus!", diz outro.

Os grupos são criados a partir de links com convites públicos disponibilizados em páginas do PT, prática permitida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde qualquer interessado pode se inscrever. Uma vez nesses espaços, os integrantes são incentivados a espalhar o conteúdo dos grupos em suas redes pessoais e entre membros de suas igrejas.

O reforço da presença digital de Lula no meio evangélico vem como parte de um pacote voltado para esses religiosos, após uma resistência inicial do petista em fazer acenos para este segmento. Segundo o último Datafolha, Bolsonaro vence entre evangélicos com 65% das intenções de voto contra 31% de Lula.

Grande parte das mensagens investe ainda em lembrar realizações dos governos petistas, enquanto acusam o atual presidente de ser contra o povo mais pobre. "Bolsonaro nunca esteve do lado das mulheres", diz uma imagem lembrando que foi o PT que aprovou a PEC das Domésticas e que Bolsonaro foi contra.

— O discurso de que "cristão não vota na esquerda" deixa as pessoas com medo, confusas — aponta o pastor presbiteriano Luis Sabanay, um dos coordenadores do núcleo de evangélicos do PT. — Mas quando olhamos para os projetos sociais,parte essencial da história e do projeto de Lula, é na verdade muito alinhado com o propósito de Cristo. Escutamos muitos relatos de pessoas que são gratas por terem sido atendidas pelos projetos sociais do PT.

 

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